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ONU alerta para colapso agrícola em Gaza: 2 milhões enfrentam fome e só 5% das terras são cultiváveis

Após 19 meses de conflito, destruição de lavouras, estufas e poços paralisa produção de alimentos em Gaza.
ONU alerta para colapso agrícola em Gaza: 2 milhões enfrentam fome e só 5% das terras são cultiváveisGettyimages.ru / Doaa Albaz/Anadolu

Menos de 5% das terras agrícolas da Faixa de Gaza permanecem disponíveis para cultivo, segundo o mais recente levantamento geoespacial realizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em parceria com o Centro de Satélites da ONU (UNOSAT), referente ao mês de abril de 2025.

O dado revela o colapso da infraestrutura agroalimentar do território palestino, aprofundando a ameaça de fome após 19 meses de guerra.

Até o final de abril de 2025, 12.537 hectares dos 15.053 hectares de terras agrícolas de Gaza haviam sido danificados, o equivalente a mais de 80% da área total.

Além disso, 77,8% dessas terras estão inacessíveis, restando apenas 688 hectares (4,6%) em condições de cultivo. As regiões mais afetadas são Rafah, no sul do território, e as províncias do norte, onde praticamente nenhuma terra agrícola pode ser utilizada.

O estudo utilizou imagens de satélite de alta resolução e comparou os dados com a situação anterior ao início do conflito, em outubro de 2023.

O resultado também mostra que 71,2% das estufas da Faixa de Gaza foram danificadas, com destaque para Rafah, onde a destruição passou de 57,5% em dezembro de 2024 para 86,5% em abril de 2025. Todas as estufas de Gaza estão inutilizadas.

A infraestrutura de irrigação também colapsou: 82,8% dos poços agrícolas da região foram destruídos. Em dezembro de 2024, esse índice era de 67,7%.

"A destruição nesse nível não é apenas uma perda de infraestrutura, é o colapso do sistema agroalimentar de Gaza e de seus meios de subsistência. O que antes fornecia alimento, renda e estabilidade para centenas de milhares de pessoas está agora em ruínas", afirmou Beth Bechdol, vice-diretora-geral da FAO.

"Com terras, estufas e poços destruídos, a produção local de alimentos foi interrompida. A reconstrução exigirá um investimento massivo e um compromisso sustentado para restaurar tanto os meios de vida quanto a esperança", finalizou. 

Antes do início da guerra, o setor agrícola representava cerca de 10% da economia de Gaza. Mais de 560 mil pessoas, cerca de um quarto da população local, dependiam total ou parcialmente da produção agrícola, pecuária ou pesca para garantir o sustento.

Fome iminente

A FAO estima que, desde o início das hostilidades, em 2023, o setor agrícola da Faixa de Gaza acumula perdas superiores a 2 bilhões de dólares, sendo US$ 835 milhões em danos diretos e US$ 1,3 bilhão em perdas econômicas.

As necessidades de reconstrução são calculadas em aproximadamente 4,2 bilhões de dólares. Segundo a agência da ONU, com o colapso do cessar-fogo, esses números devem aumentar ainda mais, tornando o desafio de recuperação ainda maior.

O levantamento da FAO e UNOSAT foi divulgado após a publicação da nova análise da Classificação Integrada da Segurança Alimentar em Fases (IPC, na sigla em inglês), que aponta que toda a população da Faixa de Gaza, cerca de 2,1 milhões de pessoas, enfrenta risco crítico de fome.

O alerta ocorre após quase dois anos de conflito, deslocamentos em massa e bloqueios severos à entrada de ajuda humanitária.

Entre 1º de abril e 10 de maio de 2025, 93% da população (1,95 milhão de pessoas) estavam em situação de crise alimentar ou pior (Fase 3 ou superior da IPC).

Dentre essas, 925 mil pessoas (44%) estavam na Fase 4 (Emergência), e 244 mil pessoas (12%) na Fase 5 (Catástrofe), estágio em que há fome extrema e risco iminente de morte por inanição.

As projeções indicam que, entre 11 de maio e o final de setembro de 2025, o número de pessoas em situação de catástrofe alimentar deve chegar a 470 mil, o que corresponde a 22% da população total da Faixa de Gaza.

Em resposta ao cenário, a FAO fez um apelo no dia 12 de maio pela restauração imediata do acesso humanitário e pelo fim dos bloqueios à entrada de ajuda no território palestino.