Um memorando de entendimento entre Brasil e China promete aprofundar a cooperação bilateral em inteligência artificial (IA), com foco em infraestrutura, capacitação técnica e digitalização da indústria brasileira. O acordo foi assinado durante a visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China e integra um pacote de 20 iniciativas firmadas entre os dois países.
A parceria define cinco eixos de atuação conjunta: construção de infraestrutura, treinamentos e intercâmbios, compartilhamento de experiências em aplicações e plataformas, enfrentamento dos riscos de segurança da IA e formação de profissionais qualificados.
De acordo com Mauro Ramos, correspondente do Brasil de Fato em Pequim, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias, afirmou que o objetivo brasileiro é trazer os ganhos da IA para os processos produtivos.
"É preciso levar pro chão de fábrica, para os processos produtivos, os ganhos que a inteligência artificial pode trazer: aumento da produtividade, vai melhorar a nossa competitividade no cenário internacional", declarou Elias, que assinou o acordo com a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China.
O secretário integrou a comitiva composta por representantes de 11 ministérios do governo brasileiro e afirmou que a cooperação está alinhada com os princípios da Nova Indústria Brasil. "Tornar nossa indústria mais digital, mais competitiva, mais produtiva, mais sustentável e mais exportadora", disse.
"A China tem experiência nisso, tem uma grande produtividade industrial, todo mundo sabe que nós podemos nos aproveitar desse intercâmbio de informações", finalizou.
Durante a visita oficial, também foi anunciada a criação de um laboratório conjunto de inteligência artificial. A proposta é fortalecer as capacidades de pesquisa e inovação no setor e ampliar a formação de talentos por meio de universidades, centros de pesquisa e empresas dos dois países.
Entre os objetivos técnicos está o treinamento de grandes modelos de linguagem e sistemas multimodais, considerados essenciais para o avanço de aplicações baseadas em IA. Além disso, o intercâmbio de estudantes, professores e pesquisadores será incentivado por meio de seminários, workshops e visitas acadêmicas.
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, também acompanhou a visita à China e afirmou ao Brasil de Fato que a formação conjunta com os chineses é uma prática já estabelecida e que deve ser ampliada. "É uma prática longeva que nós temos com os chineses de várias universidades brasileiras que já fazem esse tipo de cooperação e nós queremos ampliar".
Ela destacou ainda que, durante a visita do presidente chinês Xi Jinping a Brasília em novembro, outro memorando foi assinado prevendo ações semelhantes no campo da inteligência artificial. O foco era a cooperação no desenvolvimento de recursos humanos e qualificação da força de trabalho.
Além do acordo específico sobre IA, o governo brasileiro assinou uma Carta de Intenções sobre a Promoção do Desenvolvimento de Alta Qualidade da Cooperação em Investimentos na Economia Digital. Segundo Elias, essa carta abrange áreas como comércio eletrônico, plataformas digitais, streaming e serviços audiovisuais. "Isso vale para e-commerce, plataformas digitais, streaming, recursos de audiovisuais, ou seja pra área de serviços", explicou.
A implementação do memorando de inteligência artificial seguirá as diretrizes do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, lançado em 2023 na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O plano prevê investimentos de R$ 23 bilhões até 2028. O acordo tem validade de três anos, com renovação automática ao fim do prazo.