A frustração cresce entre líderes europeus diante de sinais de que os Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, podem abandonar o apoio à Ucrânia. A recusa do presidente americano em impor as prometidas sanções esmagadoras contra a Rússia por rejeitar um cessar-fogo de 30 dias intensificou o sentimento de impotência no continente, de acordo com o tradicional jornal britânico The Guardian.
A inquietação aumentou após Trump relatar aos líderes europeus sua conversa telefônica de duas horas com o presidente russo Vladimir Putin. O diálogo entre as nações abriu a possibilidade de avanço concreto em direção à paz.
Trump justificou sua posição dizendo que apenas as partes em conflito poderiam definir os termos de um acordo. "Eles conhecem detalhes da negociação que ninguém mais saberia", afirmou. Ele acrescentou: "Ainda acho que algo pode acontecer, e se não acontecer, simplesmente me afastarei e eles terão de seguir em frente".
O americano também declarou: "Mais uma vez, este era um assunto europeu e deveria ter permanecido europeu". Seu vice-presidente, JD Vance, resumiu: "Essa não é a nossa guerra".
No entanto, poucos dias antes, o general aposentado Keith Kellogg, enviado especial de Trump para a Ucrânia, havia compartilhado com líderes europeus um plano de paz dos EUA com 20 pontos, começando por um cessar-fogo, o que contradiz a alegação de Trump de que apenas os países envolvidos podem decidir o futuro da Ucrânia.
"Pesadelo" da Europa?
Diante desse contexto, o "pesadelo" europeu de um eventual abandono da Ucrânia por parte dos EUA se intensifica, escreve o jornal. O novo embaixador dos EUA na Otan, Matthew Whitaker, declarou na conferência Lennart Meri, em Tallinn, que os EUA devem apresentar um plano de retirada de tropas da Europa após a cúpula da Otan em junho. Embora tenha prometido um processo "ordenado", nem todos ficaram tranquilos.
Hoje, a Europa abriga 100 mil soldados americanos. Parte desse número decorre do reforço de 20 mil tropas ordenado por Biden após o conflito ucraniano. A escala e o modo da retirada, no entanto, preocupam aliados, principalmente porque a Otan precisa decidir novas metas de capacidade militar sem saber quantas tropas americanas continuarão no continente.
A frustração europeia se acentua porque, para atender às exigências de Trump, os membros da Otan concordaram em elevar os gastos com defesa. A meta para os próximos 5 a 7 anos inclui 3,5% do PIB em defesa e 1,5% em cibersegurança e infraestrutura relacionada, com aumento anual de 0,2% na parte militar.