Notícias

Brasil encaminha plano para atrair cientistas afetados por cortes de Trump nos EUA

Iniciativas incluem apoio a pesquisas, novo marco regulatório e edital para repatriação científica.
Brasil encaminha plano para atrair cientistas afetados por cortes de Trump nos EUAGettyimages.ru / Chip Somodevilla / Buda Mendes

O governo brasileiro pretende lançar nos próximos dias um pacote de medidas para atrair cientistas e pesquisadores que atuam nos Estados Unidos, especialmente brasileiros,  que têm sido impactados por decisões da gestão Donald Trump.

A iniciativa foi detalhada ao UOL pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e deve incluir incentivos à pesquisa, novo marco regulatório e edital de financiamento.

Nos últimos meses, a Casa Branca suspendeu repasses milionários a pesquisas científicas, encerrou vistos de cientistas estrangeiros e ameaçou o funcionamento de universidades. Nesta semana, o presidente Donald Trump anunciou veto à matrícula de estrangeiros em Harvard, decisão posteriormente derrubada pela Justiça.

A ofensiva contra a comunidade científica nos EUA motivou a Europa, ainda no final de 2024, a lançar um fundo de 500 milhões de euros para atrair pesquisadores que perderam recursos ou espaço em centros norte-americanos. Agora, o Brasil busca ocupar o mesmo espaço.

Avanços em diferentes áreas:

Uma das medidas tem por objetivo atrair pesquisadores no setor que atua no desenvolvimento de vacinas baseadas em mRNA. "Vamos antecipar a implementação das plataformas de pesquisa nessa área na Fiocruz e no Instituto Butantan", afirmou Padilha ao UOL

Segundo ele, o governo lançará no dia 29 de maio uma nova rodada de investimentos no complexo industrial da saúde, com foco em atrair cientistas especializados nesse campo.

A tecnologia mRNA foi essencial durante a pandemia da covid-19 e é apontada como promissora em pesquisas sobre dezenas de doenças, incluindo o câncer. Apesar disso, centros norte-americanos que atuam com esse tipo de vacina sofreram cortes e tiveram que encerrar linhas de pesquisa.

Pesquisadores não precisam abandonar os EUA:

Outro eixo das ações será a regulamentação do novo marco legal da pesquisa clínica, sancionado por Lula em 2024. A expectativa é de que o ambiente regulatório mais ágil estimule a vinda de pesquisadores ao Brasil ou a realização de estudos em colaboração remota.

"A ideia é que isso crie espaço para o desenvolvimento mais rápido de pesquisas e que atraia pesquisadores que estão se afastando dos EUA", explicou Padilha. Para ele, nem todos os cientistas devem deixar fisicamente os Estados Unidos, mas poderão colaborar à distância com centros brasileiros.

O terceiro ponto do plano será um edital específico do Ministério da Ciência e Tecnologia voltado ao financiamento de pesquisadores brasileiros interessados em retornar ao país ou colaborar com instituições nacionais.

Segundo Padilha, esse esforço começou em 2023 e já beneficiou 2.500 cientistas em dois anos. A nova chamada pública será direcionada especialmente aos que estão nos Estados Unidos.

"Agora haverá um edital específico para atrair quem estiver nos EUA", afirmou o ministro. Ele também destacou que parte dos cientistas pode ter interesse em deixar o país norte-americano. "Há quem não se sinta mais seguro nos EUA", disse.

Além das ações diretas, Padilha afirmou que o governo está dialogando com a indústria farmacêutica para criar condições que estimulem a contratação de pesquisas e cientistas no Brasil.