'Seus dólares, sua decisão': governo Milei anuncia nova (e polêmica) medida

O porta-voz da presidência da Argentina apresentou o Plano de Reparação Histórica da Poupança dos Argentinos, buscando combater a informalidade no país; críticos apontam que a medida facilitará a lavagem de dinheiro.

O porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, apresentou nesta quinta-feira uma nova medida econômica promovida pelo governo Milei, buscando injetar dólares no sistema bancário formal. O plano tem como objetivo permitir que os poupadores utilizem, sem qualquer tipo de revisão ou penalidade, parte dos estimados US$ 200 bilhões em ativos não declarados e não bancarizados no país sul-americano.

"Seus dólares, sua decisão. Em outras palavras: o que é seu é seu e não pertence ao Estado. O que é seu é seu e você pode gastá-lo e usá-lo como quiser, sem ter que ficar mostrando de onde o tirou", declarou Adorni, em meio à controvérsia causada pela medida conhecida como Plano de Reparação Histórica da Poupança dos Argentinos.

A partir de agora, segundo ele, os argentinos voltarão a ser inocentes até que a Agência de Controle de Receitas e Alfândegas prove o contrário. Adorni comentou que durante décadas tais pessoas foram tratadas como supostos criminosos, e a poupança criminalizada, através de políticas de controle que incentivaram a informalidade. Assim, os cidadãos preferiram manter seus dólares "em seus colchões", ao invés de depositá-los em bancos.

"Transformaram a Argentina em um país onde ganhar dinheiro era mal visto e até perigoso (...) Isso serviu de terreno fértil para um círculo vicioso em que os argentinos se voltaram mais para a informalidade (...) as pessoas que queriam comprar 200 dólares para economizar eram tratadas como criminosos como Al Capone", denunciou.

Adorni descreveu como "aberrantes", "ridículas" e "hipócritas" as políticas que forçam os poupadores a provar como obtiveram dólares, apesar do fato de que tais controles vigoram em países de todo o mundo como mecanismos de combate à lavagem de dinheiro.

"Hoje isso acaba. É hora de pôr fim a essa grande hipocrisia que mantém reféns os argentinos que trabalham, poupam e investem (...) Somente se confiarmos nas pessoas e permitirmos que o dinheiro circule livremente é que o país poderá avançar de uma vez por todas", disse.

Detalhes

Em 2024, graças a um primeiro Regime de Regularização de Ativos, o governo argentino conseguiu colocar mais de US$ 20 bilhões no sistema bancário, o que permitiu manter o preço do dólar sob controle.

Na semana passada, o Ministro da Economia do país, Luis Caputo, confirmou que o governo promoveria a desregulamentação total do uso de moeda estrangeira no país sul-americano a fim de "tornar as pessoas muito mais inclinadas a tirar seus dólares do colchão, do cofre, de qualquer lugar, e gastá-los".

Desde aquele dia, surgiram críticas à proposta, uma vez que a proposta de depositar e gastar dólares sem qualquer tipo de regulamentação poderia dar origem a crimes como lavagem de dinheiro. A oposição considera que o governo está comprovando, sem reconhecer, que precisa de mais do que os U$ 20 bilhões emprestados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) ao país, com o propósito de estabilizar a economia.