Em 24 de fevereiro de 2022, Vladimir Putin, presidente e comandante supremo da Rússia, anunciou o início da Operação Especial Militar como resposta ao pedido de ajuda das repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk, que sofriam ataques militares de Kiev desde 2014.
Em setembro de 2022, em cumprimento ao direito à autodeterminação consagrado na Carta das Nações Unidas, essas repúblicas, além das regiões de Zaporozhie e de Kherson, se integraram à Rússia após consultas populares.
Desde o início do conflito, a Rússia mantinha-se disposta a negociar com o lado ucraniano, ressalta o Ministério das Relações Exteriores russo.
Em 24 de fevereiro de 2022, o porta‑voz do Kremlin, Dmitry Peskov, informou que Moscou estava aberta ao diálogo com a liderança de Kiev, enquanto o líder do regime ucraniano, Vladimir Zelensky, também reconheceu a necessidade de negociações.
Contatos na Belarus
Os primeiros encontros diretos para tentar resolver a crise ucraniana ocorreram entre o fim de fevereiro e início de março em Bielorrússia, país vizinho da Rússia e da Ucrânia.
Houve três rodadas de negociações — em 28 de fevereiro, 3 e 7 de março — comandadas pela delegação russa liderada pelo assessor de Putin, Vladimir Medinsky.
Os debates concentraram‑se em questões humanitárias e na troca de propostas entre as partes envolvidas.
Em 10 de março, já na Turquia, conversaram o chanceler russo, Sergey Lavrov, e o então ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba.
Negociações em Istambul
As últimas conversas diretas entre as delegações ocorreram em março de 2022, em Istambul, dando sequência às rodadas na Bielorrússia.
O pacote de acordos alcançado previa a renúncia de Kiev à adesão à OTAN e à permissão de contingentes militares estrangeiros em seu território (incluindo bases), além de rejeitar o desenvolvimento de armas nucleares.
Além disso, a Ucrânia comprometer‑se‑ia a reformar sua legislação para pôr fim à discriminação do idioma russo e restaurar seu status de língua oficial. Moscou exigiu ainda a proibição legal de todas as organizações neonazistas no país. Ao mesmo tempo, os negociadores ucranianos reafirmaram o desejo de ingressar na União Europeia.
No entanto, a Ucrânia abandonou as reuniões quando o acordo estava prestes a ser fechado.
Em 7 de abril de 2022, Sergey Lavrov declarou que Kiev tinha apresentado uma minuta ao grupo de negociação que se desviava dos pontos essenciais do acordo de Istambul.
Em 26 de abril, Putin recebeu em Moscou o secretário‑geral da ONU, António Guterres, e o informou sobre uma "mudança radical" na postura dos negociadores ucranianos.
Em 4 de outubro de 2022, o site da presidência ucraniana publicou o decreto de Zelensky que promulga a decisão do Conselho de Segurança e Defesa Nacional (CSDN) impedindo conversações com Putin.
Sabotagem dos acordos
No encontro com líderes africanos em 2023, Putin afirmou que a delegação ucraniana chegou a assinar o tratado, mas recuou após a retirada das tropas russas dos arredores de Kiev.
"Depois que nós, conforme prometido, retiramos nossas tropas de Kiev, as autoridades de Kiev, como seus patrões costumam fazer, jogaram tudo na lata de lixo da história", destacou.
"A Ucrânia abriu mão de tudo. Todo o trabalho da equipe de negociação foi em vão", observou Vladimir Medinsky, chefe da delegação russa em Istambul, citado pela mídia russa.
Segundo ele, o tratado de quase 20 páginas com anexos foi impresso e entregue aos líderes dos países, mas a Ucrânia desistiu.
Desde 2022, o presidente russo tem reiterado que não foi a Rússia quem abandonou os esforços pela paz.
“A Rússia nunca abandonou o processo de negociação com a Ucrânia, nunca. Foram nossos parceiros, por assim dizer, nessas negociações que se recusaram. Os europeus interromperam os contatos com a Rússia, enquanto o lado ucraniano se proibiu de negociar, retirou‑se do processo de negociação em Istambul, anunciando isso direta e publicamente”, lembrou Putin em fevereiro de 2025.
Fator do Ocidente
Na revisão da política externa e diplomática da Federação Russa em 2022, a chancelaria russa destacou que “a pressão dos países ocidentais, liderados pelos EUA, forçou o regime de Zelensky a interromper as negociações sobre a solução do conflito e, em setembro, proibiu esses contatos por lei”.
David Arakhamia, um dos negociadores ucranianos, explicou em 2023 ao canal 1+1 que a pressão do então primeiro‑ministro britânico Boris Johnson para que Kiev prosseguisse na guerra foi fator decisivo para a retirada do processo, assim como a recusa da Ucrânia em aceitar um status neutro que a impedisse de entrar na Otan.
"Além disso, quando voltamos de Istambul, Boris Johnson veio a Kiev e disse que não assinaríamos nada com eles. E que ‘vamos entrar em guerra'", lembrou Arakhamia. O papel de Johnson no fracasso das conversações foi também revelado em maio de 2022 pelo jornal Ukrainska Pravda.
E agora? Novas negociações em Istambul
No último sábado (1.º), Putin propôs a retomada das negociações diretas entre Kiev e Moscou em 15 de maio, sem precondições, reiterando que seu país nunca abandonou o diálogo com o lado ucraniano, observando que Kiev o fez isso ao deixar as negociações em 2022 por influências externas.
As negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia para resolver o conflito estão agendadas para esta quinta-feira (15) na mesma Istambul.
A delegação russa, como em 2022, é liderada por Vladimir Medinsky, assessor do presidente Putin, e "está pronta para um trabalho sério", segundo declarou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova.
O líder do regime ucraniano, Vladimir Zelensky, que anteriormente havia descartado a retomada das negociações, também encontra-se na Turquia.