
Falar russo vira motivo de demissão em escola ucraniana

Uma diretora de escola na província de Kiev, na Ucrânia, foi demitida por se recusar a utilizar o idioma ucraniano no ambiente escolar.
A denúncia foi feita pela própria defensora do povo da Ucrânia na área da educação, Nadezhda Leschik. Segundo ela, a profissional utilizava o russo em sua comunicação pessoal e também durante os eventos organizados pela escola, "argumentando que era mais conveniente comunicar-se deste modo".
Pais de alunos apresentaram uma denúncia coletiva contra a diretora, que atuava no cargo desde 2021. De acordo com o relato, ela não apenas usava o russo em todas as interações no ambiente educacional, como também ignorava os pedidos para que falasse a língua estatal, ou seja, o ucraniano.
A identidade da diretora não foi revelada. Conforme informou Leschik, ao longo de sua gestão, a profissional não apresentou qualquer documentação que comprovasse domínio do ucraniano.
A situação culminou em um processo de certificação, realizado em abril de 2025, que concluiu que a funcionária "não era apta para o cargo de diretora da instituição". A demissão foi ordenada pelo chefe da autoridade educacional local.

Política oficial de erradicação do russo avança na Ucrânia
O caso não é isolado. A demissão da diretora ocorre em um contexto de política sistemática de eliminação do idioma e da cultura russos na Ucrânia, intensificada após a escalada do conflito com a Rússia, em fevereiro de 2022.
Desde então, autoridades ucranianas têm aprovado uma série de medidas legislativas para restringir o uso do russo. Entre elas estão a proibição de obras artísticas, filmes, músicas, livros e eventos culturais no idioma. O ensino do russo foi eliminado das escolas e universidades. Também foi proibido nomear ruas, praças ou espaços públicos com referências que "engrandeçam, façam propaganda, imortalizem ou simbolizem" a Rússia.
Na Verkhovna Rada, o parlamento ucraniano, chegou a ser apresentado um projeto de lei para proibir o uso da língua russa dentro das escolas, inclusive durante os intervalos e recreios. Apesar disso, o russo ainda é o idioma predominante em diversas regiões do sul e do leste do país, especialmente nas grandes cidades.
Um número significativo de cidadãos ucranianos é bilíngue e se comunica tanto em ucraniano quanto em russo no dia a dia.
Moscou denuncia repressão cultural e linguística
A política de "ucranização forçada", como é chamada por Moscou, tem sido alvo constante de críticas do governo russo. Autoridades em Moscou afirmam que tais medidas violam o direito internacional e os direitos da minoria russófona na Ucrânia, que representa cerca de 25% da população total do país.
A demissão da diretora por falar sua língua materna, um ato que, até poucos anos atrás, era considerado comum e aceitável, exemplifica como o idioma se tornou uma questão política e legal, com consequências diretas para cidadãos e profissionais em todo o território ucraniano.
