Gigante chinesa Meituan chega ao Brasil e promete bilhões para disputar mercado do delivery

Empresa fará operação por meio da Keeta, marca internacional da empresa, com foco em comida e geração de empregos diretos e indiretos.

A Meituan, maior superaplicativo de serviços da China, confirmou nesta semana que vai iniciar operações no Brasil nos próximos anos. O anúncio foi feito por meio da Keeta, marca internacional da empresa, que já atua em mercados como Hong Kong e Arábia Saudita.

A estreia está prevista para acontecer ainda em 2025 e deve movimentar o setor de entregas no país, hoje dominado amplamente pelo iFood. A Meituan planeja usar sua estrutura internacional para disputar o mercado brasileiro com foco inicial em delivery de comida.

Fundada em 2010, a companhia realiza atualmente mais de 98 milhões de entregas por dia em sua operação na China. A chegada ao Brasil promete também um impacto expressivo na geração de empregos. Estima-se a criação de 100 mil postos de trabalho indiretos, além da instalação de uma central de atendimento no Nordeste, com até 4 mil vagas diretas, segundo dados divulgados pelo governo.

A expectativa é que a empresa invista bilhões na nova operação, embora ainda não haja detalhamento sobre como os recursos serão aplicados. De acordo com informações do jornal O Globo, parte significativa dos valores deve ser destinada a subsídios para consumidores e restaurantes, incluindo redução de taxas de entrega e estratégias agressivas de marketing.

"Estamos ansiosos para trazer o Keeta ao Brasil, com o objetivo de melhorar a experiência dos consumidores, impulsionar o crescimento dos restaurantes parceiros, e gerar mais oportunidades para entregadores em todo o país", afirmou Wang Xing, fundador e CEO da Meituan.

Concorrência pode alterar dinâmica do setor

A entrada da Meituan é vista por especialistas como um marco no setor de delivery brasileiro. De acordo com o Instituto Foodservice Brasil, o segmento enfrenta um ponto de virada, após retração no pós-pandemia e queda de 3% no número de pedidos em 2024.

Atualmente, o crescimento se apoia no aumento do ticket médio, que subiu 4%, em razão da alta nos preços dos alimentos. O grupo de alimentos e bebidas do INPC fechou 2024 com aumento acumulado de 7,60%.

Nesse cenário, o anúncio da gigante chinesa é apontado como um fator de transformação. "O delivery vive um reaquecimento mas com uma nova racionalidade, mais centrado em rentabilidade, diversificação e diferenciação", diz Ingrid Devisate, vice-presidente do Instituto Foodservice Brasil.

A comparação com o iFood é inevitável. Enquanto a plataforma brasileira realiza cerca de 120 milhões de entregas por mês, a Meituan supera essa marca diariamente na China.

A nova concorrente também opera com um modelo de negócios mais diversificado, não dependente exclusivamente do setor alimentício, o que, segundo Devisate, pode permitir a oferta de taxas mais baixas aos restaurantes.

"Ela já nasce menos dependente do delivery. Isso permite que baixe taxas para restaurantes, o que é hoje a principal dor do setor", afirma. "Se a Meituan conseguir reduzir isso, muda o jogo para todo mundo". 

Mercado se movimenta com novas promessas

Além da Meituan, outras plataformas têm anunciado iniciativas para disputar o setor. Em 29 de abril, a 99Food, controlada pela chinesa Didi, relançou sua vertical de delivery e prometeu dois anos sem cobrança de tarifas dos restaurantes.

Poucos dias depois, o Rappi anunciou isenção de taxas por três anos. Ambas as empresas sinalizam a intenção de ocupar o espaço deixado pelo Uber Eats, que encerrou sua operação no Brasil em 2022.

Diante da movimentação do mercado, o iFood tem apostado na diversificação dos serviços oferecidos no aplicativo. Em resposta ao avanço das concorrentes, anunciou que pretende ampliar a entrega de itens de farmácias, pet shops, conveniência, bebidas e shopping centers.

Hoje, 85% do faturamento do iFood ainda vem do segmento de restaurantes. A meta para os próximos três anos é alterar essa composição para 60% restaurantes e 40% outros segmentos.

O setor de delivery brasileiro se prepara para mudanças profundas, impulsionado pela entrada de uma gigante global e pela reestruturação de empresas já atuantes.

A Meituan deve ser uma peça central nessa nova fase. Com capacidade tecnológica, estrutura de larga escala e foco estratégico em inovação, a empresa chinesa promete agitar o mercado com promessas de melhores condições para consumidores, restaurantes e entregadores.