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EUA recebem refugiados brancos da África do Sul

Africânderes obtiveram status de refúgio sob governo Trump e desembarcaram no estado da Virgínia.
EUA recebem refugiados brancos da África do SulGettyimages.ru / Chip Somodevilla

Um grupo de sul-africanos brancos africânderes chegou nesta segunda-feira (12) aos Estados Unidos, após receber o status de refugiado concedido pela gestão do presidente Donald Trump .

Eles desembarcaram no Aeroporto Internacional de Washington Dulles, na Virgínia, onde foram recebidos por autoridades americanas, conforme divulgado pelo jornal The New York Times.

A entrada do grupo ocorre em um contexto de mudança acentuada nas políticas migratórias, durante o qual Trump praticamente suspendeu novas admissões de refugiados. Apesar disso, uma exceção foi aberta aos africânderes, minoria branca que governou a África do Sul durante o apartheid.

O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, e o vice-secretário de Segurança Interna, Troy Edgar, participaram da recepção oficial no aeroporto. Trump alegou que os africânderes são alvo de "genocídio" na África do Sul.

"Fazendeiros estão sendo mortos", disse Trump aos repórteres. "Eles são brancos. Serem brancos ou negros não fazem diferença para mim. Fazendeiros brancos estão sendo brutalmente assassinados, e suas terras estão sendo confiscadas na África do Sul", alegou Trump.

A decisão gerou grande controvérsia, especialmente por contrastar com as políticas restritivas de imigração impulsionadas pela gestão de Trump, que dificultaram a entrada de refugiados de outras nacionalidades. Muitos deles, como cidadãos congoleses e afegãos, continuam aguardando há meses, ou até anos, para serem admitidos nos EUA.

A chegada do grupo também gerou manifestações em Washington, com protestos criticando a prioridade dada aos africânderes por meio de um processo expresso, em um momento em que muitos outros refugiados aguardavam em condições difíceis. 

Tanto o governo sul-africano, quanto organizações de direitos humanos, têm contestado as afirmações feitas por Trump, argumentando que a alegação de "genocídio" é infundada e não condiz com a realidade da maioria dos sul-africanos, que vivem em um país multirracial e democrático desde o fim do apartheid, há mais de três décadas.

O número exato de refugiados autorizados a entrar nos EUA nessa condição ainda não foi divulgado.

Disparidades raciais

Em janeiro, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, sancionou a legislação que tornaria mais fácil para o Estado expropriar terras no interesse público, sem oferecer indenização em determinadas circunstâncias. A emenda tem como objetivo abordar as disparidades raciais na propriedade de terras agrícolas, em grande parte controladas por fazendeiros brancos, três décadas após o fim do apartheid em 1994.

Em resposta às observações de seu colega norte-americano, Ramaphosa negou que seu governo tenha confiscado terras e disse que o país tem "uma democracia constitucional profundamente enraizada no Estado de Direito, na justiça e na igualdade". "Estamos ansiosos para interagir com o governo Trump sobre nossa política de reforma agrária e questões de interesse bilateral. Estamos confiantes de que, a partir desses contatos, compartilharemos um melhor entendimento comum sobre essas questões", acrescentou.

Mesmo com o esclarecimento, os EUA decidiram suspender o financiamento federal ao país africano, alegando que a lei viola os direitos dos sul-africanos brancos, que ainda possuem a maioria das terras agrícolas, apesar de constituírem apenas cerca de 7% da população.

O embaixador sul-africano chegou a ser expulso do país norte-americano no dia 14 de março, sendo acusado de "incitação racial" e criticado por questionar o político republicano.