Israel anunciou uma nova fase da ofensiva em Gaza, com o objetivo de manter controle sobre áreas ocupadas e deslocar grande parte da população civil. A operação, batizada de "Carros de Gideão", foi aprovada por unanimidade pelo gabinete de segurança no domingo (4) e prevê "uma presença sustentada" de tropas israelenses no território palestino.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou, em vídeo publicado na rede X, que a estratégia agora é manter os soldados nas áreas conquistadas, e não apenas realizar incursões e recuar. "A intenção é o oposto disso", declarou. "A população será transferida, para sua própria proteção."
De acordo com o porta-voz militar israelense, Efi Dufferin, a nova etapa incluirá "um ataque em larga escala e o deslocamento da maioria da população da Faixa de Gaza, para protegê-la em uma área estéril do Hamas. E continuarão os bombardeios aéreos, a eliminação de terroristas e a destruição de infraestrutura."
A nova ofensiva
A proposta representa uma mudança significativa na condução da guerra e gerou preocupação internacional. Um porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que "isso inevitavelmente levará à morte de ainda mais civis e à destruição adicional de Gaza". Para Guterres, "Gaza é, e deve continuar sendo, parte integrante de um futuro Estado palestino".
Desde o colapso do cessar-fogo em meados de março, Israel intensificou bombardeios e estabeleceu zonas de segurança reforçadas nas fronteiras da Faixa. Estima-se que mais de 70% do território esteja sob controle israelense ou sob ordens de evacuação emitidas por Israel.
O chefe do Exército, tenente-general Eyal Zamir, informou no domingo (4) que dezenas de milhares reservistas serão convocados, a fim de permitir que tropas regulares sejam mobilizadas para Gaza. Ao mesmo tempo, Zamir se opôs à proposta de que as Forças de Defesa de Israel (IDF) assumam a distribuição de ajuda humanitária, enquanto organizações alertam para o colapso do sistema de socorro no território.
Apesar das críticas, autoridades israelenses disseram à imprensa local que há "alimento suficiente atualmente em Gaza", mas aprovaram "a possibilidade de uma distribuição humanitária, se necessário, para impedir que o Hamas se apodere dos suprimentos e enfraquecer sua capacidade de governo".
Israel afirma que a ofensiva busca pressionar o Hamas a libertar os 58 reféns ainda mantidos em Gaza desde o ataque de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas. Desde então, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, pelo menos 52.535 palestinos foram mortos, a maioria civis.
Impacto do Governo Trump
O governo israelense também segue promovendo, segundo autoridades, um plano de "transferência voluntária" da população de Gaza para países vizinhos, como Jordânia e Egito, proposta inicialmente apresentada por Donald Trump em janeiro.
Israel também estabeleceu a visita do presidente Donald Trump ao Oriente Médio, marcada para a próxima semana, como prazo limite para um novo acordo de cessar-fogo e libertação de reféns. Caso as negociações fracassem até 15 de maio, está prevista uma operação terrestre de larga escala para retomar o controle total da Faixa de Gaza, com a remoção forçada da maior parte da população palestina para uma zona isolada chamada de "área humanitária".
Embora autoridades afirmem buscar uma solução negociada, o governo Netanyahu reforça que não aceitará o fim da guerra sem a rendição total do Hamas, enquanto mantém pressão sobre o grupo com a ameaça da reocupação permanente.
Enquanto isso, protestos tomaram as ruas de Jerusalém. Famílias de reféns condenaram a nova ofensiva, temendo por suas vidas e pelas dos soldados israelenses envolvidos. Estima-se que metade dos reféns já esteja morta.
Novos ataques israelenses durante a noite e na manhã de segunda-feira (5) mataram pelo menos 32 pessoas em Gaza, segundo hospitais locais. Os bombardeios atingiram Gaza City, Beit Hanoun e Beit Lahiya. Entre as vítimas, estavam oito mulheres e crianças, informou o hospital al-Shifa à imprensa.