Um conclave 'multipolar': como Francisco mudou a votação?

O pontífice indicou diretamente 80% dos cardeais com direito a voto, muitos deles de regiões que nunca tiveram voz. Será o primeiro conclave em que a Europa não terá a maioria absoluta.

Enquanto o mundo aguarda a escolha do próximo pontífice, o legado de Francisco representa um divisor de águas na Igreja, especialmente em sua busca por uma representatividade mais equilibrada entre os países

O primeiro papa latino-americano priorizou a inclusão de vozes de fora da Europa, ampliando não só o número de cardeais do Colégio, mas também incluindo mais representantes da África, Ásia e América Latina, mitigando a hegemonia europeia.

Aumento da representatividade

Segundo o Pew Research Center, desde sua eleição em 2013, o pontífice nomeou 108 cardeais, ou seja 80% dos 135 clérigos com direito a voto para eleger o novo papa. 

Em 12 anos, Francisco também aumentou significativamente o número de cardeais de países do "Sul Global". A percentagem de votantes do leste asiático subiu de 10% para 18%, enquanto a dos da África Subsaariana passando de 8% para 12%. 

A representatividade da América Latina e do Caribe no conclave foi ligeiramente aumentada de 17% para 18%, bem como a do Oriente Médio e Norte da África (de 2% para 3%).

Conclave menos eurocêntrico

O pontificado de Francisco pavimentou o caminho para que o próximo conclave possa, mais uma vez, eleger um papa não europeu, reforçando a imagem de uma Igreja verdadeiramente mais inclusiva

Segundo a Vatican News, pela primeira vez, 15 nações estarão representadas por seus cardeais eleitores nativos, sendo eles Haiti, Cabo Verde, República Centro-Africana, Papua-Nova Guiné, Mianmar, Ruanda, Tonga, Malásia, Suécia, Luxemburgo, Timor-Leste, Singapura, Paraguai, Sudão do Sul e Sérvia.

Europa

A Europa ainda terá um peso significativo no conclave, com 53 cardeais presentes, o que representa 40% daqueles que deverão eleger o novo papa. Entre eles, alguns são chefes de dioceses e arquidioceses em países não europeus, ou servem como núncios apostólicos tanto fora quanto dentro da Cúria Romana.

O número demonstra a queda de representatividade do continente europeu, que representava 51% dos cardeais votantes em 2013, segundo o Pew Research Center.

Os países com mais representantes a votar no conclave são Itália (19), seguida pela França (6) e Espanha (5).

Américas

A América do Sul será representada por 21 cardeais, dos quais 4 são da América Central e 17 da América do Sul. 

O Brasil será o país latino-americano com o maior número de cardeais eleitores (7), seguido pela Argentina (4).

A América do Norte terá 16 cardeais no conclave, sendo 10 dos Estados Unidos.

Ásia e Oceania

O conclave contará com 23 clérigos de países asiáticos e 4 da Oceania. Entre eles, a Índia será a mais representada (4), seguida pelas Filipinas (3).

Entre os cardeais dos países da Oceania, estarão presentes os da Austrália, Nova Zelândia, Papua-Nova Guiné e Tonga, cada um contando com apenas um representante.

África

O continente africano tem 18 cardeais com direito a voto no conclave, sendo a Costa do Marfim a mais representada (2) entre 17 países. Um cardeal do Quênia não estará presente por motivos de saúde, informa a agência Reuters, citando fontes oficiais.