Brasil está se aproximando da Rússia e se distanciando do 'mundo Ocidental', lamenta Kiev

Andrei Melnik queixou-se ao mencionar que Lula e Putin conversaram por telefone quatro vezes, enquanto as tentativas de aproximar o brasileiro de Zelensky ''foram em vão''.

Andrei Melnik, enviado do regime de Kiev às Nações Unidas e ex-embaixador no Brasil, lamentou o fortalecimento dos laços entre Moscou e Brasília.

''Há uma tendência [do Brasil] em direção à Rússia, eu diria até que é um retrocesso suave em relação ao mundo Ocidental, realmente aos trancos e barrancos. E, no ano passado, foi a conexão com Moscou que começou a ganhar impulso rapidamente", afirmou, citado pela imprensa russa nesta segunda-feira.

Nesse contexto, Melnik queixou-se: ''Lula teve quatro conversas telefônicas cordiais com Putin. Mas todas as nossas tentativas de continuar o diálogo que havia começado na linha Zelensky-Lula foram em vão'', declarou, em referência às seis tentativas frustradas de contato com o presidente brasileiro.

Ele reconheceu que não apenas o governo petista, mas toda a elite política do Brasil ''não vê nenhum benefício'' em desenvolver relações com Kiev. "Não somos uma prioridade nem do ponto de vista geopolítico nem do ponto de vista econômico e comercial", admitiu.

"Terra imoral"

O legado de Melnik na condição de representante do regime de Kiev no Brasil é marcado por polêmicas. Em uma entrevista à imprensa ucraniana, ele se referiu ao país latino-americano como ''a imoral terra brasileira'', tendo tecido duras críticas à política externa conduzida pelo Itamaraty, chegando a sugerir que o país não tem o potencial de exercer a posição de liderança a que se propõe:

''O Brasil, e especialmente seu atual governo, tem grandes ambições. Às vezes, essas ambições excedem suas capacidades. Eles querem jogar seu próprio jogo. E graças à China, que tem sido seu principal parceiro comercial e político por muitas décadas, eles estão tentando conquistar esse papel para si mesmos''.

O diplomata parece reconhecer que seu trabalho no país latino-americano não rendeu frutos. Ele afirma não ter sido capaz de conquistar a "confiança" dos representantes em Brasília, e que o diálogo é praticamente inexistente. "Eu ficaria até feliz se os brasileiros reclamassem de mim, porque significaria que temos algum contato", admite.

Nesse contexto, Melnik lamenta que a Rússia tenha desenvolvido uma política externa muito mais "ativa" diante de países como o Brasil e o Sul Global:

"Eles investiram recursos, tempo e cérebros na região", afirmou, ressaltando que em todo o sistema do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, em comparação, ''há literalmente poucas pessoas, diplomatas de nível baixo e médio, que sabem português''. ''Estou literalmente sozinho lá, não tenho ninguém com quem trabalhar", queixa-se.