
Mercosul mira expansão comercial após medidas dos EUA e retoma negociações internacionais

Em uma reunião realizada em Buenos Aires nesta sexta-feira (2), os chanceleres do Mercosul, bloco composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, discutiram novos caminhos para fortalecer a integração regional e mitigar os impactos das tensões comerciais globais, em especial as geradas pelas políticas protecionistas dos Estados Unidos. O encontro abordou não apenas os efeitos da guerra comercial iniciada por Donald Trump, mas também estratégias para modernizar e harmonizar as economias dos países membros, conforme divulgado pelo bloco econômico sul-americano.

Uma das decisões centrais foi a ampliação temporária da Lista Nacional de Exceções à Tarifa Externa Comum (LETEC), permitindo que até 50 códigos tarifários sejam isentos de tarifas, uma medida crucial para proteger setores sensíveis da economia regional. A decisão surge como uma resposta à imposição de tarifas elevadas por parte dos EUA, especialmente em produtos como aço e alumínio, afetando diretamente a competitividade do bloco no mercado global.
O LETEC é a tarifa aplicada aos países que desejam importar seus produtos para os membros do bloco: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia. Essa taxa varia de 0% a 35%, dependendo da categoria do produto.
Modernização
Durante o encontro, os chanceleres reafirmaram o compromisso com a modernização do Mercosul, destacando avanços como a conclusão das negociações com a União Europeia. Também foi enfatizado o desejo de acelerar os diálogos com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) e com os Emirados Árabes Unidos, com o objetivo de finalizar os trâmites ainda neste semestre e viabilizar a assinatura dos acordos em 2025.
Os ministros das Relações Exteriores também chegaram a um consenso sobre a importância de aprofundar a integração regional por meio de uma série de medidas práticas. Entre as prioridades, destacaram-se a remoção de barreiras ao comércio entre os países do bloco, o fortalecimento das cadeias produtivas regionais, a unificação de normas e regulações e a ampliação das Áreas de Controle Integrado nas fronteiras. Além disso, foi ressaltada a necessidade de avançar na conectividade física e digital entre os membros do Mercosul, como parte do esforço de modernização e competitividade regional.
Histórico
No encontro realizado no Palácio San Martín, sede da Chancelaria argentina, os chanceleres do Mercosul sublinharam o caráter histórico da reunião. Pela primeira vez em 34 anos, o bloco realizou duas reuniões de chanceleres em um intervalo de menos de um mês. Este marco, destacaram, é um reflexo do ''forte compromisso'' dos países membros com o fortalecimento e a unificação do Mercosul, além de sua modernização, diante das transformações rápidas e constantes no comércio internacional.
O encontro, liderado pelo Ministro das Relações Exteriores da Argentina, Gerardo Werthein, no âmbito da Presidência Pro Tempore, contou com a presença dos Ministros das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira; Bolívia, Celinda Sosa; Rubén Ramírez Lezcano de Paraguai e de Uruguai, Mario Lubetkin.
Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) expressou, nesta terça-feira (29), o interesse do Brasil em retomar e aprofundar as negociações para um acordo comercial entre o Mercosul e o Canadá, conforme divulgado pela Agência Brasil. A declaração foi feita por meio de uma mensagem nas redes sociais, na qual o presidente também felicitou o liberal Mark Carney pela vitória nas eleições canadenses realizadas no dia anterior.
Além das boas-vindas ao novo premiê, Lula destacou áreas em que o Brasil espera avançar em parceria com o governo canadense, como a defesa dos direitos humanos e o enfrentamento da crise climática. O ponto central da mensagem, no entanto, foi o interesse brasileiro em destravar o diálogo com o Canadá dentro do contexto do Mercosul.
''Temos interesse em avançar nas negociações de um acordo comercial entre o Mercosul e o Canadá para diversificar e expandir nosso intercâmbio'', afirmou o presidente.
Em 2024, o fluxo comercial entre Brasil e Canadá somou US$ 9,1 bilhões, refletindo uma relação econômica consolidada e de longa data entre os dois países. Além do intercâmbio comercial, os laços bilaterais se estendem ao campo dos investimentos e à cooperação educacional, considerada uma das áreas mais dinâmicas dessa parceria. O Canadá, inclusive, figura como o principal destino de estudantes brasileiros no exterior, reforçando a conexão entre as duas nações também no âmbito acadêmico.

