
Mistério da 'escrita rongorongo' da Ilha de Páscoa começa a ser desvendado

Linguistas russos especializados em línguas antigas estão investigando a enigmática escrita rongorongo, originária da Ilha de Páscoa. Um dos principais estudiosos envolvidos é Albert Davletchin, da Universidade Estatal Russa de Humanidades, que aplica métodos comparativos para testar hipóteses sobre os símbolos gravados em tábuas de madeira.
O trabalho é desenvolvido em Moscou, com apoio de acervos internacionais, e busca decifrar um dos poucos sistemas de escrita que teriam surgido de forma autônoma no mundo — e o único conhecido na antiga Oceania.
Escrita extinta desde o século 19
Chamado de "kohau rongorongo" pelo povo rapanui, o sistema foi utilizado até o século 19. Quando os europeus passaram a estudá-lo, já não havia mais habitantes locais capazes de interpretá-lo.

Cerca de 15 mil glifos foram preservados, a maioria entalhada em tábuas de madeira. Algumas dessas peças estão no museu Kunstkamera, em São Petersburgo, levadas pelo cientista russo Nikolay Miklukho-Maklai no século 19.
A expressão "kohau" significa "madeira de canoa", enquanto "rongorongo" quer dizer "mensagem". A escrita chama atenção por ser uma criação original, sem relação com outros sistemas conhecidos, e por ser o único registro escrito da antiga Polinésia.
Novas leituras sugerem escrita silábica
Ao longo do século 20, estudiosos como Iúri Knórozov, Thomas Bartel e Irina Fiodorova propuseram formas de interpretar os glifos. Davletchin segue essa tradição e, nos últimos três anos, sugeriu leituras para vinte sinais, testando doze deles com base no método da leitura cruzada — um símbolo só é validado se fizer sentido em diferentes contextos.
Entre os resultados, foram identificadas palavras como "MEA" ("vermelho"), "TAJI" ("um") e "TOKI" (um tipo de machado), além de sílabas como "KA", "KI" e "PA". Isso sugere que o rongorongo é uma escrita silábica, com estrutura semelhante à dos hieróglifos egípcios ou ao sistema maia.
Alguns sinais parecem representar a primeira sílaba de palavras inteiras — como o símbolo lido como “PA”, associado à palavra "PAKIA" (“selo”) no idioma rapanui.
Os avanços reacendem o interesse em decifrar por completo os registros da Ilha de Páscoa — e, com isso, revelar aspectos ainda desconhecidos da história e cultura de um dos povos mais enigmáticos do Pacífico.
