
Argentina abre arquivos sobre a presença de membros da cúpula nazistas no país

O governo da Argentina desclassificou uma série de documentos secretos que tratam da presença de membros da alta cúpula nazista no país após a Segunda Guerra Mundial.
A medida foi tomada por decisão do presidente Javier Milei, e os arquivos foram disponibilizados no site do Arquivo Geral da Nação (AGN).

O material trata das operações de criminosos de guerra alemães em território argentino e inclui "mais de 1.850 documentos", entre relatórios de inteligência, registros financeiros, fotografias e recortes de imprensa.
Entre os nomes citados estão Adolf Eichmann, Erich Priebke e Josef Mengele. Também foram liberados 1.300 decretos presidenciais, categorizados por decisões de diferentes governos entre 1957 e 2005.

Os documentos incluem registros confidenciais da Diretoria de Relações Exteriores da Polícia Federal, da antiga Secretaria de Estado da Inteligência e da Gendarmaria Nacional, abrangendo o período entre as décadas de 1950 e 1980.
Alguns detalham a entrada e permanência de Mengele, médico nazista conhecido como o "anjo da morte" pelos crimes cometidos em Auschwitz.
"Anjo da Morte"
O arquivo sobre Mengele revela que ele entrou na Argentina em 20 de junho de 1949, como cidadão italiano, usando um passaporte emitido pela Cruz Vermelha Internacional em nome de Gregor Helmut.
Um "formulário de prontuário" em nome de Josef Mengele — no qual ele é identificado como "fabricante" de profissão — aponta que, em novembro de 1956, ele pediu a "retificação" de seu nome e sobrenome.
Inicialmente, foi registrado em um endereço na cidade de Florida, no distrito de Vicente López, província de Buenos Aires. Mais tarde, declarou residir no bairro de Monserrat, na capital.

O prontuário menciona que, viúvo, ele se casou com Marta María Will, ex-mulher de seu irmão mais novo, já falecido. O documento também registra que ele solicitou um certificado de conduta para viajar ao Chile em 1956 e, dois anos depois, outro para "viajar à Alemanha Ocidental".

Um documento de 1960 trata do pedido de extradição feito pela Alemanha em junho de 1959. Mengele havia sido julgado e condenado à prisão perpétua. No entanto, a solicitação "foi supostamente negada" pelo governo argentino, sob a justificativa de "falhas formais e processuais".
Eichmann e Priebke
Os arquivos sobre Adolf Eichmann, conhecido como o "arquiteto" do Holocausto, reúnem relatórios e comunicados à imprensa sobre sua presença na Argentina. Ele vivia sob o nome de Ricardo Klement na cidade de Lanús, província de Buenos Aires, e trabalhava em uma fábrica de automóveis. Em 1960, foi capturado pelo serviço secreto israelense Mossad, julgado e condenado à morte. Eichmann foi enforcado em Israel em 31 de maio de 1962.

Já os documentos relacionados a Erich Priebke — funcionário da Gestapo acusado de crimes de guerra — incluem o decreto de extradição para a Itália, onde ele foi responsabilizado pelo massacre das Fossas Ardeatinas, ocorrido em Roma, em 1944. As tropas nazistas mataram 335 civis em retaliação a um ataque da resistência italiana.
Priebke viveu por décadas em Bariloche, onde chegou a ser diretor de uma escola. Foi extraditado em 1995, durante o governo de Carlos Menem, e condenado à prisão perpétua na Itália. Passou os últimos anos de vida em prisão domiciliar e morreu em 2013, em sua casa, em Roma.

Argentina desclassificou documentos sobre nazistas no país
Em março, o governo de Javier Milei determinou a desclassificação de todos os documentos oficiais relacionados aos nazistas que se refugiaram na Argentina após a guerra.

Na mesma ocasião, o porta-voz da presidência, Manuel Adorni, anunciou que o governo também tornaria públicos os arquivos relacionados à última ditadura militar (1976–1983) que estão sob responsabilidade da Secretaria de Inteligência do Estado.

