O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta ao presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, para tentar resolver um dos principais entraves nas negociações da reunião de chanceleres do BRICS, realizada nesta segunda (28) e terça-feira (29), informou a imprensa brasileira.
O Brasil busca incluir na declaração final do encontro a menção à sua demanda histórica por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas enfrenta resistência do governo egípcio
O Egito argumenta que o BRICS não seria o fórum adequado para tratar do tema e se opõe a um texto que destaca especificamente o pleito brasileiro. Além disso, a menção à África do Sul e à Índia, também reforçada pelo Brasil no documento, provoca desconforto entre os novos membros africanos do bloco.
Divergências nas negociações
As divergências se acentuaram nos últimos dias, impedindo que os negociadores técnicos, reunidos no Rio de Janeiro desde a última quarta-feira (23), chegassem a um consenso. O impasse foi, então, elevado para a deliberação dos ministros das Relações Exteriores.
O sistema de governança internacional, incluindo as Nações Unidas, "não está conseguindo lidar com os desafios atuais e precisa ser renovado", destacou o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, durante a abertura da reunião dos ministros do BRICS nesta segunda-feira.
Ele defendeu que o grupo assumisse "um papel crucial" nesse processo, ressaltando que a expansão do bloco criou uma oportunidade ímpar para que os países respondessem coletivamente aos enormes desafios globais.
Vieira enfatizou a "posição única" dos onze países do BRICS "para a promoção da paz e da estabilidade baseada no diálogo, no desenvolvimento e na cooperação multilateral". Também foi mencionado que o grupo deve ser "uma força para o bem", coexistindo na resolução de conflitos como a crise no Haiti, o conflito ucraniano, a guerra israelo-palestina e as tensões no Sudão.
Expansão do BRICS
Criado em 2009, o BRICS foi inicialmente composto por Brasil, Rússia, Índia e China, incorporando a África do Sul em 2011. Em 2023, o grupo passou por uma expansão, com a entrada do Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Arábia Saudita.
Durante a ampliação, o Brasil buscou garantir sua relevância no bloco, negociando a inclusão de um trecho no documento oficial que reconhecia o apoio à reforma do Conselho de Segurança da ONU.
Atualmente, a delegação brasileira tenta retomar os termos negociados em 2023, alegando que os novos membros foram aceitos como bases fundamentais. O Egipto e a Etiópia, no entanto, apoiam o Consenso de Ezulwini, que defende uma representação coletiva africana no Conselho de Segurança, sem menção específica a países.
A busca por um assento permanente no Conselho de Segurança é uma pauta histórica do Itamaraty, reforçada especialmente nos governos Lula. Apesar disso, os analistas avaliam que as perspectivas de uma reforma significativa são remotas, diante da intensificação das disputas geopolíticas entre grandes potências.