
Moeda comum do BRICS e futuro da Ucrânia: os principais pontos da entrevista de Lavrov ao Globo

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, concedeu entrevista ao jornal O Globo sobre as perspectivas dos BRICS, o conflito ucraniano e a inclusão do Brasil no Conselho de Segurança da ONU.
Ao comentar as possibilidades de usar moedas locais em pagamentos comerciais, Lavrov afirmou que, no atual cenário de fragmentação da economia global, os países do Sul e do Leste Global reduzem cada vez mais o uso de moedas ocidentais para evitar sanções do Ocidente.
Moeda comum do BRICS
O chanceler destacou o esforço para garantir transações financeiras contínuas, com rublo e moedas locais de países amigos respondendo por 90% das operações da Rússia com o bloco em 2024.

Na mesma linha, Lavrov afirmou que a desdolarização emergiu como uma "principal tendência na economia global", impulsionada pela crescente desconfiança nos mecanismos financeiros controlados pelo Ocidente. Sobre a criação de uma moeda do BRICS, disse que, embora seja prematuro discutir sua adoção, os esforços concentram-se na criação de uma infraestrutura de pagamento que facilite as trocas entre os países membros.
A ênfase recai sobre o uso ativo das moedas nacionais, com a possibilidade de reconsiderar uma moeda comum quando as condições financeiras e econômicas forem favoráveis, ressaltou.
Inclusão do BRICS no Conselho de Segurança, posição da Rússia
De acordo com o chanceler russo, a Rússia defende a reforma do Conselho de Segurança da ONU para ampliar a representação dos países do Sul e do Leste Global, apontando Brasil e Índia como candidatos dignos a membros permanentes.
"Consideramos o Brasil, que realiza uma política externa independente e é capaz de fazer uma contribuição significativa para a solução de problemas internacionais", afirmou.
Moscou se opõe à inclusão de mais representantes ocidentais, continuou Lavrov, defendendo uma ordem mundial multipolar.
"Pensando nas causas profundas" do conflito
Questionado sobre o conflito ucraniano, Lavrov declarou que a Rússia aprecia a determinação de seus parceiros em "contribuir para a criação de condições para uma solução pacífica da crise ucraniana."
"Mais de 20 países e diversas organizações regionais da América Latina, Ásia e África apresentaram iniciativas semelhantes", afirmou, destacando o Brasil entre eles.
De acordo com Lavrov, a ideia de criar um formato de negociação multilateral, apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2023, "se refletiu na iniciativa sino-brasileira de estabelecer "Grupo de Amigos da Paz na Ucrânia" na ONU."
O ministro russo também reiterou que o mais importante para resolver a crise é "considerar as raízes" do conflito e "guiar-se pelos princípios da Carta da ONU em sua totalidade e interconexão".
O chanceler denunciou que "Bruxelas entende qualquer resultado diferente da derrota incondicional de Moscou como uma perda geopolítica" e que, "em vez de facilitar o acordo, a UE busca minar os acordos sob o pretexto de que não foi convidada para as negociações".

