
Cardeal conservador 'inimigo' de Francisco pede que conclave não eleja um 'papa herege'

O cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, líder da ala mais tradicional da Igreja e opositor das políticas do Papa Francisco, advertiu em várias entrevistas sobre o risco que a instituição corre se não eleger um pontífice "ortodoxo" e reiterou suas críticas a várias das medidas promovidas pelo pontífice argentino.
"Um capítulo da história da Igreja terminou. Claramente, o julgamento final pertence a Deus, não podemos julgar as pessoas", disse Müller, em referência as suas ''opiniões diferentes'' às do pontificado de Francisco.
Depois de apontar sua discordância com os rótulos "liberal" e "conservador", considerando que a divisão dentro da Igreja é ainda mais profunda, ele disse que o próximo papa "deve ser ortodoxo, nem liberal nem conservador".
"A questão não é entre conservadores e liberais, mas entre ortodoxia e heresia", afirmou. "Rezo para que o Espírito Santo ilumine os cardeais, porque um papa herético que muda todos os dias dependendo do que a mídia está dizendo seria catastrófico", continuou.
Para Müller, de 77 anos, que tem direito a voto no conclave, o próximo papa não deve "esperar aplausos do mundo secular que vê a Igreja como uma organização humanitária que faz trabalho social". Ele disse que "isso agrada a muitas pessoas secularizadas, a elite, os oligarcas, que gostariam de ter um papa como símbolo de sua religião", mas garantiu que "o papa não é um símbolo de uma religião secularizada".
Contra as políticas de Francisco
Müller era responsável pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, e foi Francisco quem o nomeou cardeal. No entanto, foi também o falecido pontífice que o removeu da posição em 2017, depois de Müller ter questionado a decisão de permitir a comunhão para pessoas divorciadas que haviam se casado novamente fora da Igreja.
Sobre esse aspecto do papado do argentino, o cardeal alemão criticou a "ambiguidade" em questões teológicas, enquanto pedia que questões como a bênção de casais homossexuais "fossem esclarecidas":"O documento aprovado tinha a intenção de ajudar essas pessoas pastoralmente, mas a doutrina católica sobre o matrimônio não deve ser relativizada", argumentou à época.

Para Müller, "nenhum católico é obrigado a obedecer a uma doutrina que é errônea", enquanto "o catolicismo não consiste em obedecer cegamente ao Papa sem respeitar as Sagradas Escrituras, a tradição e a doutrina da Igreja".
O cardeal alemão também adotou uma visão diferente da de Francisco sobre a questão dos migrantes e do meio ambiente.
Aproximação com a China e o Islã
Outro ponto questionado por Müller foi a aproximação do Vaticano com a China em 2018, que permitiu a nomeação de bispos de forma consensual, apesar de os dois Estados não terem relações diplomáticas.
"É preciso fazer acordos com esses ditadores poderosos, mas não podemos trair os princípios de nossa fé, não podemos aceitar que comunistas ateus, inimigos da humanidade, escrevam nossos livros de catecismo ou tragam imagens de Xi Jinping para as igrejas. Não se pode fazer pactos com o demônio", disse ele.
Em relação ao Islã, Müller considerou que o "diálogo" é possível, embora tenha levantado objeções. "Eles respeitam certos princípios da ética natural e acreditam em Deus à sua própria maneira. Mas devemos nos perguntar como é possível que alguém que acredita em Deus, o criador de todos os homens, possa assassinar em seu nome. Diálogo sim, mas evite todas as formas de relativismo", concluiu.
