Uma equipe internacional de pesquisadores da Áustria e de Israel fez uma descoberta inusitada no Cenáculo, em Jerusalém, apontado pela tradição cristã como o local da Última Ceia de Jesus Cristo.
Utilizando técnicas avançadas de imagem, como filtros ultravioleta, imagens de transformação de refletância e fotografia multiespectral, os cientistas identificaram cerca de 30 inscrições e nove desenhos nas paredes da sala.
Os vestígios encontrados datam do período entre 1300 e 1500 e incluem registros cristãos e muçulmanos, muito deles escritos em idiomas nativos. Entre as inscrições, destaca-se uma em armênio que menciona "Natal de 1300". Os grafites são atribuídos a peregrinos de diversas origens, incluindo armênios, tchecos, sérvios e cristãos orientais de língua árabe, além de europeus ocidentais, apresentando assinaturas, frases e brasões heráldicos.
Essas gravuras, que permaneceram ocultas por séculos, foram redescobertas na década de 1990 durante a restauração do salão, revelando uma rica tapeçaria histórica que conecta diferentes culturas e tradições ao longo do tempo.
Os pesquisadores encontraram um desenho em que havia uma taça de vinho e uma bandeja com comida e pão - uma possível referência à Última Ceia. Também havia figuras de barcos que simbolizavam a longa jornada feita pelos peregrinos e brasões pertencentes a famílias reais.
As descobertas foram publicadas em um novo estudo no "Liber Annuus", um anuário acadêmico publicado por uma entidade franciscana de pesquisas teológicas e arqueológicas sediada em Jerusalém.
"Estes grafites lançam luz sobre a diversidade geográfica e o movimento de peregrinação para Jerusalém durante a Idade Média - muito além da perspectiva acadêmica dominante no Ocidente", observou Ilya Berkovich, historiador da Academia Austríaca de Ciências.
Um pouco de história:
De acordo com o relato bíblico, a Última Ceia ocorreu por volta do ano 33 d.C., quando Jesus se reuniu com seus doze apóstolos e informou-lhes que sua morte era iminente e que um deles o trairia. Embora não haja referências textuais precisas sobre o local dessa refeição, existe um amplo consenso na tradição de estudos bíblicos de que ela teria ocorrido em um lugar chamado Cenáculo, localizado no Monte Sião, em Jerusalém, que há séculos é considerado uma construção de grande importância para a fé cristã.
Em 1523, logo após a conquista otomana, os cristãos franciscanos foram expulsos do local, que permaneceu sob domínio muçulmano até 1948.
"Não sabemos exatamente quando as paredes do Cenáculo foram cobertas, mas supomos que isso tenha sido feito logo após a conquista muçulmana, pois é improvável que os novos proprietários tenham deixado expostas as numerosas inscrições cristãs, símbolos heráldicos e escritos de peregrinos", escreveram os pesquisadores no estudo.