Dez momentos que mostram por que Francisco era um símbolo de empatia e quebra de protocolos

O pontífice argentino protagonizou gestos inesperados, aproximou-se dos marginalizados e desafiou tradições do Vaticano.

Desde que assumiu o pontificado em março de 2013, o argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, tornou-se figura central de momentos emocionantes e inesperados no Vaticano, com uma personalidade carismática que, em diversas ocasiões, o levou a desafiar os protocolos tradicionais da Igreja.

Suas palavras e atitudes, marcadas por simplicidade, ressoaram tanto entre fiéis quanto entre líderes globais. Distante da pompa e do elitismo, reformulou a imagem de uma instituição que, nos oito anos anteriores, havia sido marcada por crises e escândalos.

O papa Francisco fez discursos que abalaram as estruturas da Igreja Católica, com foco nos pobres e doentes, críticas ao consumismo e mensagens inclusivas à comunidade LGBT*.

Próximo às pessoas

Um dos momentos mais marcantes de seu pontificado ocorreu durante sua primeira viagem internacional, para o Rio de Janeiro, onde comandou a Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013. Durante o evento, uma criança se aproximou enquanto o papamóvel passava rumo ao Palácio do Arcebispo.

A equipe de segurança permitiu que o menino se aproximasse. O papa o abraçou enquanto ele chorava, emocionado.

"Santidade, eu quero ser um sacerdote de Cristo, um representante de Cristo", disse o garoto de nove anos, identificado depois como Nathan de Brito. Atualmente, Nathan é postulante na Ordem dos Frades Menores, em Rondonópolis (MT).

Em novembro de 2013, durante uma audiência na praça São Pedro, o Papa Francisco — que com frequência usava um papamóvel aberto — mandou parar o veículo para abraçar um homem com neurofibromatose, doença hereditária que causa deformidades graves na pele e nos nervos. Embora não seja contagiosa, a condição frequentemente leva à rejeição social. O gesto evidenciou a solidariedade e compaixão do pontífice.

Em outro episódio, Francisco enviou US$ 200 a uma mulher de 80 anos depois de receber uma carta em que ela relatava ter sido roubada ao levar o marido doente a um hospital próximo de Veneza. O gesto refletiu o compromisso do papa com a empatia diante das dificuldades alheias.

Fora das regras

No primeiro ano de pontificado, Francisco surpreendeu ao quebrar o protocolo com um gesto de cuidado. Em visita à Guarda Suíça Pontifícia, responsável pela segurança da Santa Sé, puxou uma cadeira e ofereceu um sanduíche a um dos guardas, que havia passado a noite em pé. Ao perceber a relutância do soldado em se sentar, o papa disse: "As regras? Eu sou o papa e peço que você se sente", levando o guarda a aceitar. "Bom apetite, irmão", afirmou o pontífice, segundo relatos da imprensa.

A imagem de Francisco lavando e beijando os pés de detentos tornou-se emblemática de seu papado. Ele visitou presídios masculinos, femininos e juvenis, acolheu refugiados muçulmanos e de outras religiões e reiterou uma mensagem de solidariedade e inclusão.

Outro momento marcante ocorreu em 2017, durante uma cerimônia de batismo na Capela Sistina. Francisco encorajou as mães a amamentarem seus bebês "sem medo".

Na ocasião, batizou 28 crianças — 15 meninos e 13 meninas —, a maioria filhos de funcionários do Vaticano. Diante do choro dos bebês, brincou: "O show já começou".

Ao reconhecer a duração da cerimônia, acrescentou: "Se alguns estão chorando de fome, mães, sintam-se à vontade para amamentar, como Nossa Senhora amamentou Jesus".

Outro gesto simbólico aconteceu em 2021, quando o ex-arcebispo de Buenos Aires beijou o braço de uma sobrevivente de Auschwitz durante uma audiência geral, em sinal de respeito ao número de identificação tatuado pelos nazistas.

Francisco tem se destacado por abordar temas considerados tabus na Igreja Católica, especialmente ligados à sexualidade. Em julho de 2023, respondeu a uma mensagem de Giona, jovem trans portuguesa, que perguntava se sua fé era compatível com sua identidade.

"Deus nos ama exatamente como somos. Mesmo que sejamos pecadores, ele se aproxima para nos ajudar", afirmou o papa, dizendo que o Senhor está sempre ao nosso lado.

Em agosto de 2021, durante uma audiência geral, atendeu ao celular diante dos fiéis, quebrando o protocolo usual do Vaticano. O gesto ilustrou o estilo acessível e descontraído que Bergoglio imprimia ao papado, tornando-o uma figura singular na tradição católica.

*O movimento LGBT internacional é classificado como uma organização extremista na Rússia e proibido no país.