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Ucrânia 2.0? O país pós-soviético que proíbe oposição, mídia e tudo o que é russo

O governo desse país pós-soviético vem, há vários anos, abolindo gradualmente a cultura e o idioma russos, banindo a mídia russa e reprimindo a oposição.
Ucrânia 2.0? O país pós-soviético que proíbe oposição, mídia e tudo o que é russoGettyimages.ru / Maxym Marusenko

Nos últimos anos, a Moldávia, um país da ex-URSS cuja cultura está intimamente ligada à Rússia, começou a tomar as mesmas medidas tomadas pelo regime de Kiev, proibindo tudo relacionado à cultura russa.

Ao chegar ao poder em 2020, a presidente, Maia Sandu, cidadã romena e forte defensora da adesão à UE, começou a piorar gradualmente os laços com a Rússia, após quatro anos de governo de Igor Dodon, que mantinha boas relações com Moscou.

Desde o início de seu primeiro mandato como presidente, Sandu atribuiu todos os problemas da Moldávia à Rússia e aos defensores das boas relações com o país eslavo, oprimindo a população de língua russa e fomentando o conflito com a Rússia.

Educação e religião

As autoridades moldavas estão preparando uma lei para abolir o ensino do russo. Em março de 2025, Natalia Davidovich, membro do partido governista Ação e Solidariedade, informou que os deputados alteraram a legislação sobre educação no país.

"Introduzimos o conceito de educação multilíngue, de modo que as crianças das escolas de língua russa não só terão aulas de romeno como matéria, mas também terão aulas de matérias escolares em romeno [...] Esse é o primeiro passo para que o ensino seja totalmente em romeno", disse.

A religião também causou um racha entre a sociedade e o governo. A Igreja Ortodoxa Romena, que opera em território moldavo, já havia convocado as paróquias da Igreja Ortodoxa Moldava a se fundirem a ela, o que gerou controvérsia.

As tensões aumentaram na quinta-feira (17) depois que as autoridades moldavas impediram que o arcebispo Markel, da Igreja Ortodoxa Moldava, viajasse a Jerusalém para buscar o Fogo Sagrado. O arcebispo Markel expressou repetidamente sua preocupação com as ações conjuntas da Igreja Ortodoxa Romena e do governo da Moldávia contra a Igreja Ortodoxa Moldava, que é associada à Igreja Ortodoxa Russa.

Margarita Simonian, a diretora do grupo RT, disse que "as autoridades moldavas chegaram ao ponto de intimidar a Igreja Ortodoxa" e comparou o fato à perseguição religiosa na Ucrânia.

"Um padrão familiar de perseguição à Igreja Ortodoxa Russa. E a metodologia é a mesma. O que vem depois? Incursões em igrejas? Prisões de padres? Você pode esperar qualquer coisa de um 'presidente' de orientação não tradicional, que defende os verdadeiros 'valores europeus'", disse Simonian referindo-se às medidas tomadas pelas autoridades ucranianas.

Divisão do país

Outra semelhança com a Ucrânia é que a Moldávia também tem um conflito não resolvido com suas províncias, já que o governo moldavo tem divergências com as autoridades locais e os residentes das regiões da Transnístria e da Gagaúzia, territórios que buscam maior autonomia e querem preservar a cultura e o idioma russo de suas populações.

Gagaúzia

Uma das últimas decisões do governo Sandu foi a prisão de Yevguenia Gutsul, crítica do governo moldavo pró-ocidental e líder da região autônoma de Gagaúzia. Gutsul, defensora de laços amigáveis com a Rússia, foi detida no aeroporto de Chisinau, capital da Moldávia, em 25 de março, e impedida de deixar o país sem informar as autoridades do país. A presidente da Gagaúzia foi acusada de suposta gestão fraudulenta de fundos eleitorais, recebimento de financiamento ilegal e falsificação de declarações.

"Entendemos perfeitamente com o que estamos lidando. Não se trata de um caso criminal, mas de pressão política", disse Gutsul, acusando as autoridades de fabricar o caso. A prisão da política provocou manifestações em várias cidades da Moldávia, onde milhares de pessoas saíram às ruas para apoiar Gutsul e criticar o governo.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova também expressou preocupação com as políticas de Sandu em relação à Gagaúzia, denunciou as tentativas do governo de "desmantelar o status autônomo da região".

Entre as decisões alarmantes das autoridades moldavas contra a Gagaúzia, Zakharova mencionou a prisão de Gutsul, a restrição do parlamento local de participar da nomeação do promotor regional e a cobrança de altas multas aos residentes que recebem benefícios sociais por meio do banco russo Promsviazbank.

"Condenamos veementemente os métodos totalitários das autoridades moldavas aplicados a Gagaúzia.Pedimos às entidades internacionais responsáveis que prestem atenção à violação grosseira dos direitos humanos e das minorias e forcem Chisinau a parar de estrangular o povo da Gagaúzia", enfatizou.

Transnístria

Ao mesmo tempo, em dezembro de 2024, o Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia (SVR) relatou que Sandu teria preparado um plano para uma operação militar na Transnístria. Segundo a agência russa, Sandu se reuniu com membros do governo e discutiu as questões relacionadas aos problemas energéticos da Moldávia.

De acordo com o SVR, Sandu culpou a Rússia pela situação e ameaçou "vingar-se da Transnístria pró-russa" se Moscou não encontrar uma maneira de fornecer gás à Moldávia. Ele ordenou que acusações criminais relacionadas ao "separatismo" fossem feitas contra os líderes da Transnístria e submeteu os residentes a "controles rigorosos" quando chegassem à região.

Perseguição à imprensa

Outra medida que replica o cenário ucraniano é o fechamento de veículos de mídia "desleais". Somente em 2022, o governo de Sandu fechou sete canais de TV, enquanto que, em 2023, 13 canais de TV e dezenas de sites foram banidos. Todas as mídias que ofereciam um ponto de vista divergente da narrativa estatal tiveram suas atividades encerradas.

A lista de mídias proibidas inclui Sputnik, Komsomolskaya Pravda, Argumenty e Fakty, Interfax, TASS e outras. Além disso, mais de 100 canais do Telegram foram bloqueados antes das eleições presidenciais na Moldávia.

Eleições

Sandu venceu novamente as eleições presidenciais em novembro de 2024, superando o candidato da oposição Alexandr Stoianoglo, mas as eleições foram marcadas por escândalos e acusações mútuas dos candidatos.

Por um tempo considerável da contagem, Stoianoglo despontava como líder, mas quando as apurações alcançaram mais de 90% das urnas, Sandu venceu com 55,33% dos votos.

Ao comentar os resultados do segundo turno das eleições presidenciais da Moldávia, a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, destacou que a campanha eleitoral de Sandu foi "a mais antidemocrática" de todos os anos de independência do país pós-soviético.

"Foi caracterizada pela repressão sem precedentes da oposição e da mídia independente, especialmente da mídia em língua russa, pela interferência flagrante dos países ocidentais no processo eleitoral e pelo uso em larga escala de recursos administrativos pelas autoridades", acrescentou. Ela também criticou a "discriminação" contra os eleitores moldavos que vivem na Rússia.

Zakharova afirmou que a vitória de Sandu foi garantida pelos votos da diáspora moldava que vive nos países ocidentais, "enquanto que a maioria dos próprios moldavos, de fato, aprovou um voto de desconfiança na presidente em exercício e no curso destrutivo das autoridades".