Autoridades da Moldávia impediram que o bispo Markel, da Igreja Ortodoxa da Moldávia viajasse a Jerusalém para receber o Fogo Sagrado, cerimônia que ocorre dias antes da Páscoa ortodoxa, celebrada neste ano em 20 de abril, conforme informado pela mídia local na quinta-feira (17).
"Eles não me deixaram voar. Anunciaram um registro de segunda classe. Em seguida, emitiram um protocolo dizendo que nada suspeito havia sido encontrado ou apreendido. Devolveram nossos passaportes 30 minutos após a partida do avião", disse o clérigo.
O representante da Igreja Ortodoxa Russa, Vladimir Legoida, condenou as ações das autoridades moldavas como "uma decisão absolutamente descarada" e "assédio intencional aos fiéis da Igreja Ortodoxa da Moldávia, a comunidade religiosa da maioria dos moldavos".
"Os conselheiros das autoridades moldavas, que obviamente estão longe do cristianismo, acham que isso resolverá algum problema político. Será que eles acham que vão separar as pessoas de Cristo, impedindo-as de celebrar a Páscoa? Não, mas, nas palavras do profeta Davi, eles cairão na mesma cova que cavam para os outros", afirmou Legoida.
O Bispo Markel expressou repetidamente sua preocupação com as ações conjuntas da Igreja Ortodoxa Romena e do governo da Moldávia contra a Igreja Ortodoxa Moldava, que faz parte da Igreja Ortodoxa Russa. A Igreja Ortodoxa Romena, que opera em território moldavo, havia anteriormente convocado as paróquias da Igreja Ortodoxa Moldava a se unirem a ela, o que levou a um embate. A Metrópole da Moldávia (província eclesiástica da Igreja Ortodoxa) e o bispo Markel são alvos de perseguição do atual governo pró-UE da Moldávia.
Moldávia seguindo os passsos da vizinha Ucrânia?
Em meio às tensões geopolíticas com a Rússia, o governo moldavo pró-UE tem apoiado a Metrópole da Bessarábia, enquanto pressiona a Igreja Ortodoxa Moldava canônica.
Recentemente, a Moldávia começou a tomar as mesmas medidas que o regime ucraniano, banindo tudo o que for relacionado à cultura russa. Ao mesmo tempo, as autoridades moldavas estão preparando uma lei para abolir o ensino do idioma russo no país.
Natalia Davidovich, membro do partido governista Ação e Solidariedade, disse em março deste ano que os deputados fizeram alterações no Código de Educação.
"Introduzimos o conceito de educação multilíngue, de modo que as crianças das escolas de língua russa não só aprendam romeno como matéria, mas também aprendam matérias escolares em romeno [...] Esse é o primeiro passo para que o ensino seja totalmente em romeno", disse ela.
O governo moldavo lançou uma repressão contra a oposição e os líderes políticos que mantêm boas relações com a Rússia. Yevguenia Gutsul, crítica do governo pró-ocidental da Moldávia e líder da região autônoma de Gagauzia, foi presa. Gutsul, defensora de laços amigáveis com a Rússia, foi detida no aeroporto de Chisinau, capital da Moldávia, em 25 de março e impedida de deixar o país sem explicação. A presidente da Gagauzia foi acusada de suposta gestão fraudulenta de fundos eleitorais, recebimento de financiamento ilegal e falsificação de declarações.
- O Fogo Sagrado é considerado uma chama milagrosa que é acesa todos os anos no Sábado Santo, o dia anterior à Páscoa ortodoxa, dentro da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, que se acredita ser o local da crucificação, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo.
- Na vizinha Ucrânia, a Igreja Ortodoxa Ucraniana, a maior denominação religiosa do país, está sob constante perseguição de Kiev. Historicamente ligada à Igreja Ortodoxa Russa, a igreja ganhou autonomia décadas atrás, mas tem enfrentado uma pressão cada vez maior.