O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu-se nesta semana, no Palácio do Planalto, com os diretores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, e da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, para tratar da operação de espionagem envolvendo autoridades paraguaias.
A reunião foi classificada como tensa e ocorreu após revelações de que a ação teria continuidade durante a atual gestão. A informação foi divulgada pela Folha de São Paulo.
A convocação foi motivada por um depoimento colhido pela Polícia Federal no âmbito do inquérito que investiga o uso da Abin para monitoramentos ilegais durante o governo anterior. Segundo as investigações, a espionagem teria se estendido aos primeiros meses do governo Lula com conhecimento da atual chefia da Abin, o que a própria agência nega.
A reunião também contou com a presença do ministro da Casa Civil, Rui Costa, a quem a Abin é subordinada. Durante o encontro, foram discutidas não apenas as ações de monitoramento, mas também o vazamento de informações sigilosas à imprensa. A PF instaurou um inquérito para apurar o episódio.
O episódio ganhou repercussão após o UOL divulgar, em março, que servidores da Abin haviam hackeado autoridades paraguaias em meio a negociações sobre a energia de Itaipu. A ação, segundo o governo federal, teria sido autorizada em junho de 2022, ainda na gestão Bolsonaro, e encerrada em março de 2023.
Segundo fontes que acompanharam a reunião, Rodrigues teria apresentado elementos que indicam a autorização da operação por Alessandro Moretti, ex-número 2 da Abin, com o aval de Corrêa que, à época, ainda não havia sido aprovado pelo Senado para assumir a chefia da agência.
A nota divulgada pelo Itamaraty, com informações fornecidas por Corrêa, negou qualquer envolvimento da atual gestão e reforçou que o Brasil mantém uma relação próxima com o Paraguai. Rodrigues, no entanto, teria questionado os termos do comunicado oficial.
Ainda de acordo com investigadores, há indícios de que Corrêa já exercia influência na Abin antes mesmo de sua nomeação ser confirmada pelo Senado, o que levanta suspeitas sobre seu papel no caso. A Abin e o Palácio do Planalto não comentaram o encontro até o momento.
Os depoimentos de Corrêa e Moretti à PF estão agendados para esta quinta-feira (17). O inquérito tramita sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF), e há relatos de que pessoas ligadas a investigados, incluindo advogados, tiveram acesso a documentos sigilosos.
A operação ocorreu meses antes da assinatura de um novo acordo entre Brasil e Paraguai, em maio de 2024, sobre os pagamentos pela energia gerada em Itaipu.
Na noite anterior à reunião, a associação de servidores da Abin, a Intelis, divulgou uma nota criticando a condução da PF. A entidade denunciou "interesses políticos" e classificou a atuação como prejudicial à credibilidade da inteligência nacional.
"É inadmissível e nocivo aos propósitos de uma grande nação como o Brasil que uma campanha de descredibilização do seu serviço de Inteligência seja capitaneada, não por atores estrangeiros adversos, mas por grupos da própria administração pública nacional", afirmou.