
Milei busca apoio paraguaio para 'enfrentar Brasil no Mercosul', diz imprensa local

A viagem de última hora do presidente argentino Javier Milei ao Paraguai tem como objetivo buscar apoio para ''enfrentar o Brasil no Mercosul'', informou o jornal La Nación na quarta-feira (9):
''Em sua reunião com o presidente Santiago Peña, que esteve em Buenos Aires em duas ocasiões, Milei tentou unir forças diante do que se espera ser uma divergência com o Brasil e o Uruguai, os outros dois parceiros do Mercosul, muito críticos do aumento geral das tarifas decretado pelo presidente Donald Trump e prontos para dobrar a aposta no confronto com o presidente dos EUA''.

Após chegar em Assunção na terça-feira, o argentino se reuniu com o chanceler Rubén Ramírez Lezcano. Lezcano representará o Paraguai na reunião de chanceleres do Mercosul, onde serão discutidos os próximos passos após o tarifaço de Donald Trump. Todos os integrantes do bloco foram afetados com tarifas de 10%. ''Em seguida, ele se reuniu sozinho com Peña, o que foi seguido por uma reunião conjunta com as duas delegações'', explica o veículo.
"Não tenho dúvidas de que tanto Argentina quanto Paraguai serão um exemplo para toda a América do Sul. Internamente, travando a eterna batalha contra o Estado onipresente e o déficit fiscal, e externamente, por meio da cooperação e do comércio pacíficos", afirmou Milei depois do encontro com Peña, conforme citado pela imprensa regional.
Durante a etapa final da IX Cúpula de Chefes de Estado da CELAC, que ocorreu no mesmo dia da visita de Milei à Assunção, a presidente Xiomara Castro declarou que a declaração da Cúpula foi "aprovada por unanimidade", apesar de os representantes do governos do Paraguai e da Argentina terem expressado oposição ao documento. As delegações dos dois países manifestaram sua frustração, afirmando que o estatuto da entidade está sendo violado.
"Velhas feridas" reabertas
O Brasil enfrenta um momento delicado em seu relacionamento com o Paraguai. Recentemente, a imprensa do gigante latino-americano noticiou um suposto esquema de espionagem por parte da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), provocando descontentamento de Peña, que chegou a comparar o episódio com a Guerra do Paraguai (1864-1870):
''Infelizmente, este episódio apenas reabre essas velhas feridas, quando o que queremos é deixar para trás essa história de ódio e ressentimento'', afirmou.
Na semana passada, o Ministério Público do Paraguai abriu um processo criminal para apurar a suposta invasão da Abin aos sistemas do governo paraguaio. A denúncia se baseia no depoimento de um servidor à Polícia Federal, o qual afirmou que as ações visavam obter dados sigilosos sobre negociações da usina de Itaipu.
Nesta semana, Peña subiu o tom ao falar sobre o caso: ''Devemos defender a soberania do Paraguai custe o que custar, é preciso manter-se firme quando a causa é correta'', afirmou em uma entrevista de rádio, acrescentando que muitas pessoas sentem ''medo'' de seus vizinhos, Brasil e Argentina, ''mas nós, paraguaios, devemos confiar em nós mesmos''.