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Lula: "Fome voltou por conta do descaso"

O presidente, sem citar seus antecessores diretamente, afirmou que já havia acabado com a fome em 2014.
Lula: "Fome voltou por conta do descaso"Gettyimages.ru / NurPhoto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a fome voltou no Brasil em função de um descaso, e que a ONU havia anunciado que a mazela havia sido "terminada" no país em 2014. Os comentários foram feitos durante entrevista concedida na segunda-feira à emissora SBT.

Nós já acabamos com a fome uma vez no Brasil. Em 2014, a ONU anunciou que a fome tinha sido terminada no Brasil. Depois, a fome voltou por conta do descaso. O problema da falta de comida na mesa das pessoas não é nem a falta de produção no campo e nem a falta de vontade das pessoas ter acesso ao alimento.

Lula atribuiu a fome à distribuição do dinheiro, em escala global. Ele afirmou que, em um mundo em que a tecnologia é incorporada à indústria alimentícia, "que precisa é ter dinheiro para as pessoas comparem esse alimento". "O mundo gastou, o ano passado, dois trilhões, duzentos e vinte bilhões de dólares em armamentos. Esse dinheiro poderia ser gasto, numa parte dele, para resolver o problema da pobreza no mundo. (...) Para acabar com uma fome, você tem que gerar desenvolvimento", complementou.

O mandatário brasileiro rechaçou ainda a ideia, repercutida por grandes veículos da imprensa local, de que o Governo estuda a implementação de um 'Vale Carne'. "Não existe essa bobagem de Vale Carne. (...) O que na verdade vai acontecer é que nós precisamos baixar o preço da carne. (...) Eu ri muito quando vi a notícia do Vale Carne. Sinceramente, eu não acreditei que pudesse ser verdade", declarou.

Segurança pública

César Filho, jornalista que conduziu a entrevista, indagou ao presidente sobre questões de segurança pública. "Nós não precisaríamos de leis mais severas, na sua opinião? Isso iria inibir a criminalidade? Ou o senhor não concorda com isso?", perguntou.

Lula rechaçou a tese, atrelando o problema da criminalidade à questões de teor mais estrutural e evocando fatores como a "miséria" e a "falta de oportunidade". ''Se a lei mais dura resolvesse o problema, onde tem pena de morte não teria violência'', disse.

Nesse sentido, o presidente defendeu iniciativas como o programa Pé-de-Meia, no qual seu Governo concede quantias financeiras para jovens que permanecem na escola, afim de contornar a evasão escolar. "Se a gente permitir que esse jovem deixe de estudar, nessa idade de 14, 15 ou 16 anos, a gente não sabe qual será o futuro dele, que caminho ele vai seguir. Ele pode ir para o crime organizado, ele pode ir para a droga. Aí pode aumentar a violência", argumentou.

Economia

Ao longo da entrevista, o presidente brasileiro defendeu a regulamentação da reforma tributária aprovada pelo Congresso no ano passado, e expôs os nortes ideológicos por trás da mesma:

A ideia é fazer com que as pessoas que ganham mais paguem mais. As pessoas que ganham menos paguem menos. E eu tenho um compromisso, que é um compromisso de campanha, de fazer, até o final do meu governo, que todas as pessoas que ganham até R$ 5 mil não paguem imposto de renda. 

Ele também voltou a criticar o Banco Central ao questionar os altos juros praticados no país. "Não tem nenhuma explicação os juros da taxa Selic estarem a 11,25%. (...) Não existe nada, nada, a não ser a teimosia do presidente do Banco Central em manter essa taxa de juros", queixou-se.

Lula também foi enfático ao afirmar que seu Governo tem por objetivo aumentar o poder de compra do povo brasileiro, posicionando essa ambição como central durante o seu mandato em repetidas respostas. "A economia precisa crescer não para "enricar" o banqueiro ou "enricar" o empresário, mas para fazer com que o povo mais humilde, que a mãe de família veja seus filhos ter um roupa nova, ter comida de qualidade, ter um brinquedo que ele queira possuir", afirmou. 

Ao comentar sobre a Petrobrás, que recentemente sofreu uma forte queda no valor de suas ações após a decisão de excepcionalmente deixar de pagar os dividendos extraordinários para seus acionistas, Lula apontou a necessidade de direcionar recursos para o investimento na pesquisa e na construção de novos navios:

O que não é correto é a Petrobras, que tinha que distribuir R$ 45 bilhões de dividendos, queria distribuir R$ 80 bilhões. E 40 bilhões a mais que poderia ter sido colocado para investimento, para fazer mais pesquisa, para fazer mais navio, para fazer mais onda, não foi feito. Não foi feito.

Habitação 

O entrevistador questionou o presidente ainda sobre a possibilidade de ampliar o programa 'Minha Casa, Minha Vida' para a classe média:

"Tem uma faixa da sociedade brasileira (...) que ganha 5 mil, 6 mil, 7 mil, 8 mil. Alguns ganham 9. Um bancário, um metalúrgico, um químico, um gráfico. Então, o que nós precisamos é construir um modelo de financiamento de casa para que essa gente que está acima da faixa de dois salários mínimos possa comprar uma casa".

Caso Robinho  

Lula também comentou sobre a condenação do ex-jogador Robson de Souza (Robinho), condenado na Itália por participação em um estupro coletivo. Ele afirmou que Robson deveria cumprir a pena em território brasileiro. "Era pra ele estar cumprindo pena aqui. Agora vai ser julgado esse mês", afirmou, em referência ao julgamento previsto do Tribunal Superior de Justiça, que deve decidir sobre sua extradição no dia 20 de março.

Reeleição 

Indagado se tem por objetivo disputar a reeleição no pleito de 2026, o presidente afirmou que "é muito cedo" para falar sobre o assunto, reiterando que ainda tem como objetivo cumprir diferentes metas e atender às expectativas dos eleitores:

Eu tenho certeza de cada coisa que eu prometi para esse povo. E eu tenho certeza, sabe, que eu posso mentir para ele, mas eu não posso mentir para mim mesmo. Então eu tenho que cumprir aquilo que eu prometi. Eu quero fazer desse país o melhor país da América Latina. Eu quero fazer desse país um país em que as pessoas possam ser felizes, em que as pessoas possam ter acesso.