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Entre o 'fracasso' e a 'derrota': o balanço da 'pressão máxima' de Trump sobre a Venezuela

De acordo com o ex-diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional, Juan González, as medidas coercitivas impostas por Washington só ajudaram a consolidar o governo do presidente Nicolás Maduro.
Entre o 'fracasso' e a 'derrota': o balanço da 'pressão máxima' de Trump sobre a VenezuelaGettyimages.ru / Win McNamee / Pedro Rances Mattey / Anadolu

A política de "pressão máxima" sobre a Venezuela - iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu primeiro mandato e com aparente continuidade no segundo - foi um fracasso, afirmou um ex-funcionário de alto escalão do antigo governo Biden.

O ex-diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Juan González, afirmou em entrevista ao jornal Guacamaya que, quando o democrata chegou à Casa Branca, descobriu que o governo de Maduro estava "mais consolidado" já que "havia se adaptado às sanções" impostas por Trump para gerar mudanças políticas "em um ambiente diplomático regional onde a liderança dos EUA estava profundamente enfraquecida".

"A ideia de que a pressão por si só forçará Maduro a sair do poder já foi testada e fracassou".

Na opinião de González, a estratégia de Washington contra Caracas não era coerente porque "a política em relação à Venezuela estava sendo ditada pela dinâmica política no sul da Flórida, e não por um plano sério para restaurar a democracia".

Os resultados mínimos da "pressão máxima"

O ex-funcionário sênior considerou que a campanha de "'pressão máxima' não produziu resultados" e afirmou que após "o pico do impacto das sanções em 2019", o governo de Maduro "se adaptou rapidamente".

Segundo ele, "embarcações iranianas sancionadas transportavam petróleo venezuelano até a Malásia de onde era finalmente vendida à China com um desconto de US$ 40 por barril em relação ao petróleo Brent".

Esse "fracasso" das sanções, de acordo com a explicação de González, deve-se ao fato de que tais medidas apresentam "retornos decrescentes": quanto mais elas são aplicadas, mais difícil é encontrar novos alvos e há "uma crescente dificuldade na identificação de medidas que realmente produziriam impacto".

"Qualquer especialista em sanções lhe dirá: as sanções raramente derrubam regimes, mas podem influenciar em seu comportamento. O governo Trump apostou tudo no colapso do regime sem acompanhá-lo com nenhum esforço diplomático ou de mediação. Essa abordagem falhou miseravelmente", explicou.

Licenças de petróleo

Com relação à licença concedida por Biden à empresa petrolífera norte-americana Chevron para retomar a produção de petróleo, González considerou-a como uma "decisão estratégica" para "canalizar a produção".

De acordo com González, esse acordo entre os dois governos "não foi ocultado" e tinha como objetivo "incentivar uma maior atividade econômica legal na Venezuela, mantendo a pressão pela reforma democrática".

Para o ex-diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional norte-americano, o "único vencedor claro" foi a China. Enquanto isso, González disse que a "pressão sobre Maduro enfraquece a capacidade de negociação dos EUA".

O vácuo após as sanções

"As sanções sem uma estratégia diplomática não geram negociações: geram um vácuo. E esse vácuo já está sendo preenchido por outros atores com interesses muito diferentes".

Por outro lado, González admite que a aplicação de medidas coercitivas em 2019 "contribuiu para acelerar a migração". Paradoxalmente, Trump, em seu segundo mandato, culpou Biden por ter incentivado o "desastre migratório" e implementou uma dura política de deportação em massa que inclui a prisão sem o devido processo legal de venezuelanos em El Salvador.

"Para ser claro: as sanções podem ser uma ferramenta útil, mas não são uma estratégia em si. Elas não derrubam regimes por si só. A abordagem do governo Trump parecia pressupor que o aumento do sofrimento humanitário levaria a população a derrubar o governo. Mas não foi isso que aconteceu: as pessoas simplesmente foram embora", disse González.

Ele também acredita que essas medidas de pressão "corroem" a influência dos EUA no hemisfério ocidental e "abrem mais espaço para que a China, a Rússia e o Irã aprofundem sua presença estratégica na Venezuela e em outros países".