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Empresário ou mercenário? A sombria história do fundador da Blackwater, Erik Prince

Empresário ou mercenário? A sombria história do fundador da Blackwater, Erik PrinceAP / Alex Brandon

Erik Prince é um norte-americano de 55 anos que ficou conhecido por ter fundado o controverso exército privado Blackwater em 1997.

A iniciativa foi resultado de duas condições: a primeira foi a venda da empresa de seu falecido pai, que forneceu mais de 1,3 bilhão de dólares para que ele começasse a dar os primeiros passos nesse ramo controverso.

A segunda condição foi sua experiência militar sólida. Aos 23 anos, Prince se alistou na Marinha dos EUA, onde se tornou membro do comando Seal, considerado o melhor batalhão de operações especiais do exército americano.

Ele também tinha contatos com altos cargos no governo, alguns herdados ainda da época dos negócios de seu pai e outros que se distribuíram diretamente em Washington, tendo trabalhado na Casa Branca como estagiário durante o governo de George Bush. 

O que é a Blackwater?

A Blackwater é uma das empresas militares privadas mais conhecidas do mundo e, na mesma medida, uma das mais polêmicas. A companhia foi fundada na década de 90, teve seu auge de atividade na primeira década do século XXI e, posteriormente, foi vendida e fundida a outra empresa do setor.

A Blackwater fornecia serviços de treinamento militar e segurança e passou a vender seus serviços para agências governamentais e entidades privadas. Dessa forma, tornou-se um enorme exército de mercenários, em sua maioria, de ex-militares dos EUA, pronto para intervir onde quer que fossem oferecidos um alto soldado.

Suas atividades incluíam proteção de personalidades, segurança de instalações, bem como logística em zonas de conflito. Ao longo dos anos, a empresa ganhou contratos milionários com o governo dos EUA.

A Blackwater ganhou popularidade após os ataques de 11 de setembro nos EUA, especialmente durante a Guerra do Afeganistão, iniciada em 2001, e a Guerra do Iraque, iniciada em 2003. Conflitos esses nos quais o governo dos EUA começou a depender fortemente de empresas de segurança privada.

Política

O incidente que marcou um divisor de águas na confiança da empresa ocorreu em 16 de setembro de 2007, quando mercenários da Blackwater mataram 17 civis e feriram outros 20 na Praça Nisour, em Bagdá, Iraque.

As vítimas desse massacre ainda continuam exigindo justiça, pois apesar de quatro pessoas terem sido condenadas por esses atos (uma delas à prisão perpétua), elas foram perdoadas pelo presidente Donald Trump durante seu primeiro mandato em 2020.

Esse não foi um incidente isolado, embora tenha sido o que mais gerou repercussão internacional. A empresa teve acusações de uso excessivo de força e outras controvérsias que tinham como pano de fundo a terceirização de guerras por países como os EUA.

Desde o surgimento dessa força mercenária, foram levantadas sérias dúvidas sobre a responsabilidade dos contratados privados em áreas de conflito armado. A falta de transparência na supervisão e controle de suas operações levanta dúvidas sobre a legalidade de suas operações no cenário internacional.

Venda da empresa

Prince vendeu a empresa em 2010 após o massacre da Praça Nisour, quando sua imagem já estava bastante prejudicada. No entanto, ela continua envolvida em projetos relacionados com a segurança e defesa, bem como com outras empresas militares privadas.

Apoiador do Partido Republicano desde a juventude, Prince é considerado o próximo de Donald Trump. Sua irmã foi secretária de Educação durante o mandato anterior do atual presidente e, nos últimos meses, ele até se ofereceu para ajudar na realização de deportações em massa de migrantes, informa o Politico.

Erik Prince encarna o debate sobre legalidade, ética e eficácia das práticas militares privadas ao mesmo tempo em que levanta questões sobre a conveniência dos Estados cederem o monopólio da força a empresários externos de aluguel.

Noboa e Prince

Em março, o presidente do Equador, Daniel Noboa, e Erik Prince delinearam o caminho de uma "cooperação internacional" que promete resolver a onda de insegurança no país sul-americano. O encontro polêmico entre Prince e Noboa trouxe o passado do fundador da Blackwater de volta aos holofotes.

O presidente equatoriano publicou uma foto da reunião com Prince em seu perfil oficial no X com um texto indicando que a cooperação com o empresário faz parte da "ajuda internacional" para seu país.

"Em uma reunião com Erik Prince, fundador da Blackwater, estabelecemos uma aliança estratégica para fortalecer nossas capacidades na luta contra o narcoterrorismo e a proteção de nossas águas contra a pesca ilegal", disse ele na mesma publicação.

De acordo com o jornal Primícias, a reunião contou com a presença dos ministros do Interior, John Reimberg, e do ministro da Defesa, Gian Carlo Loffredo, além do diretor do Centro de Inteligência Estratégica, Michele Sensi-Contugi.

Luisa González, candidata à Presidência do país e que enfrenta Noboa no segundo turno das eleições, repudiou o anúncio do presidente em exercício sobre a chegada de forças militares da Blackwater:

"Eles zombam das forças públicas equatorianas porque querem trazer mercenários, assassinos, quando o que temos aqui são pessoas treinadas que sabem provar segurança, mas que não estão bem equipadas", disse ela em uma entrevista transmitida pela Rádio Pichincha.