
Tensão com EUA faz China fortalecer negócios com o Brasil
Na última semana, o presidente Donald Trump anunciou tarifas recíprocas para mais de 160 países. A medida reforça a tendência de a China buscar novos parceiros fora do eixo norte-americano, abrindo espaço para o Brasil se consolidar como alternativa estratégica, segundo o jornalista Assis Moreira, do jornal Valor Econômico.
Atualmente, o Brasil responde por cerca de 1,9% do destino das exportações chinesas. Em 2024, as vendas da China para o mercado brasileiro cresceram 22% em relação ao ano anterior, puxadas principalmente pela demanda por carros elétricos chineses.
Entre janeiro e março de 2025, as exportações chinesas para o Brasil cresceram 34,9%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento. No mesmo período, as vendas brasileiras para a China recuaram 13,4%. Apenas em março, no entanto, as exportações do Brasil para o mercado chinês avançaram 10,7%, somando US$ 9,3 bilhões, enquanto as vendas da China ao país subiram 8,4%, totalizando US$ 5 bilhões.

Apesar do avanço de 5% na corrente de comércio no primeiro trimestre de 2025, o superávit brasileiro com a China praticamente desapareceu. De janeiro a março, o saldo caiu 91,4%, somando US$ 744,6 milhões, bem abaixo dos US$ 8,7 bilhões registrados no mesmo período de 2024. A queda foi puxada pela compra em plataformas chinesas, que chegou a gerar déficit na balança bilateral nos dois primeiros meses do ano. No acumulado, o superávit do Brasil com a China recuou de US$ 51,1 bilhões em 2023 para US$ 30,7 bilhões em 2024.
Encontro com Lula
Diante da escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá levar o tema à mesa durante sua visita oficial a Pequim, prevista para maio, informou o jornalista Assis Moreira.
A expectativa é de que Lula discuta com Xi Jinping os impactos das tarifas recíprocas e os caminhos para proteger a presença brasileira no mercado chinês.
Guerra comercial
Com a nova tarifa de 34% anunciada por Trump, somada a outras alíquotas impostas nos últimos anos, a taxa de importação sobre produtos da China já se aproxima de 70%.
O movimento, que acirra a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, tem efeitos colaterais sentidos em todo o planeta. Na Europa, por exemplo, o setor siderúrgico já acusa o impacto indireto dessas tarifas, aliado ao aumento do excesso de capacidade global de produção de aço.
A OCDE estima que esse volume possa atingir 721 milhões de toneladas até 2027, mais de cinco vezes o total produzido pela União Europeia. Diante disso, a indústria europeia pressiona por salvaguardas rígidas para conter a pressão competitiva, especialmente da China.