CIA influenciou espionagem brasileira contra Paraguai

Um dos objetivos da espionagem brasileira no Paraguai era detectar uma possível interferência da CIA na renegociação do acordo de Itaipu, segundo uma fonte da inteligência brasileira.

Uma fonte anônima da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) revelou que parte da espionagem conduzida pelo Brasil no Paraguai, que resultou em uma crise diplomática entre os dois países, tinha como objetivo investigar uma possível interferência da CIA na campanha para modificar o acordo sobre a Usina de Itaipu.

De acordo com a fonte, citada pelo jornalista Octavio Guedes em seu blog no portal g1, a intenção da Abin não era obter vantagens indevidas, mas proteger os interesses do Brasil diante de uma possível operação estrangeira para endurecer os termos do tratado energético.

Uma eventual alteração no acordo sobre Itaipu poderia impactar a produção industrial brasileira, aumentando o custo da energia e reduzindo a competitividade dos produtos do país no mercado internacional, argumentou o interlocutor.

A agência monitorou de perto a campanha do Centro para Democracia, Criatividade e Inclusão Social (Demos), realizada nos últimos dois anos. A organização pressiona o Brasil a pagar o que considera uma "dívida espúria", alegando que o Paraguai teria perdido mais de US$ 75 bilhões devido aos termos do tratado.

Além disso, a fonte revelou que o Demos realizou conferências em locais administrados pelos Estados Unidos, levantando suspeitas sobre um possível apoio logístico ou financeiro de Washington à campanha.

O Itamaraty agora trabalha para reduzir as tensões diplomáticas com o Paraguai, afirmou na quinta-feira a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina do Ministério das Relações Exteriores.

Caso de espionagem

A denúncia, divulgada inicialmente pelo site UOL com base em informações da Polícia Federal, levou o Paraguai a convocar o embaixador do Brasil, José Antônio Marcondes, para esclarecimentos — um gesto que sinaliza insatisfação formal.

A operação de espionagem envolveu a coleta de informações sobre as negociações energéticas da Usina de Itaipu.

Após a revelação do caso, o governo brasileiro confirmou a existência da operação, mas afirmou que ela foi autorizada durante o governo de Jair Bolsonaro, em 2022, e encerrada pela gestão de Luiz Inácio Lula da Silva em março de 2023.

Em nota, o Itamaraty declarou que "o governo do presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência contra o Paraguai, país-membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria".