O Itamaraty está trabalhando para contornar as tensões diplomáticas com o Paraguai após revelações sobre a operação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar autoridades paraguaias, afirmou na quinta-feira (3) a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina do Ministério das Relações Exteriores (MRE), em entrevista à imprensa.
Padovan classificou o episódio como "lamentável" e negou qualquer intenção de espionagem contra o Paraguai.
A operação teve início durante o governo Bolsonaro, mas se estendeu até o governo Lula.
"Houve um programa iniciado no governo passado e encerrado neste governo. E, realmente, não nos passaria pela cabeça espionar um país amigo", declarou.
A embaixadora afirmou que as autoridades brasileiras envolvidas no caso estão apurando os fatos.
"Processos de investigação não deveriam estar na imprensa", ressaltou.
"O Itamaraty não tem absolutamente nada a ver com isso e estamos trabalhando com as nossas contrapartes paraguaias para que isso não comprometa uma relação tão vigorosa, densa e histórica como a nossa com o Paraguai. Estamos aguardando informações dos órgãos competentes", disse.
Caso de espionagem
O caso, divulgado inicialmente pelo site UOL e baseado em dados da Polícia Federal, levou o Paraguai a convocar o embaixador do Brasil, José Antônio Marcondes, para esclarecimentos, em um gesto que reflete insatisfação formal.
A espionagem envolve uma coleta de informações sobre as negociações de energia da Usina de Itaipu.
Após a denúncia, o governo brasileiro confirmou a existência da operação, mas afirmou que ela foi autorizada durante o governo Bolsonaro, em 2022, e abortada pela administração Lula em março de 2023.
Em nota, o Itamaraty declarou que "o governo do presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiado hoje, contra o Paraguai, país-membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria".