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Rússia e China: nova ordem mundial em tempos de ocidente em crise

O aprofundamento da parceria entre Moscou e Pequim desafia a hegemonia ocidental e explora oportunidades diante das divisões no bloco euro-americano.
Rússia e China: nova ordem mundial em tempos de ocidente em crise

Nos últimos anos, Rússia e China se consolidaram como líderes de um movimento global em direção à multipolaridade e à soberania, formando uma parceria estratégica que desafia as estruturas hegemônicas do Ocidente, afirma Timofey Bordachev, diretor de programas do Valdai Club, plataforma internacional de debates criada na Rússia em 2004.

Apesar das sanções e pressões ocidentais, os dois países aprofundaram sua cooperação, moldando um novo modelo de relações internacionais baseado em normas globais.

À medida que essa aliança se fortalece, Moscou e Pequim devem acompanhar atentamente as mudanças no mundo ocidental, que trazem tanto oportunidades quanto riscos, avalia o autor.

Fraturas no bloco ocidental

Uma das principais mudanças é a crescente divergência entre os Estados Unidos e seus aliados europeus, perceptível no desânimo e na confusão que tomam conta das capitais da Europa Ocidental diante das decisões de Washington.

Para Bordachev, essa fragmentação do que antes era considerado um "Ocidente coletivo" gera mal-entendidos e destaca a necessidade de uma abordagem coordenada por parte da Rússia e da China para monitorar as relações entre EUA e União Europeia.

Além disso, divisões internas nas elites políticas ocidentais estão se aprofundando. Enquanto uma ala reconhece a necessidade de adaptação às mudanças globais, outra se apega a modelos globalistas ultrapassados sem enfrentar as razões de seu declínio.

Táticas de divisão ocidentais

Os estrategistas dos EUA estão interessados em enfraquecer a parceria entre Rússia e China, explorando formas de afastar Moscou de Pequim e evitar uma consolidação eurasiática mais profunda, diz Bordachev.

Diante da possibilidade de deterioração das relações entre EUA e China, Washington pode buscar diálogos separados com cada país sobre temas como segurança cibernética e controle de armas nucleares, tentando evidenciar diferenças e criar a ilusão de interesses distintos.

Essas tentativas devem ser enfrentadas com cautela e solidariedade, já que não há contradições sérias entre Rússia e China comparáveis às tensões históricas do século 20.

Cooperação entre Rússia e China

A relação econômica entre Rússia e China tem demonstrado resiliência, apesar das tentativas dos Estados Unidos e da Europa de isolar os dois países.

No entanto, ano após ano, surgem vulnerabilidades, como interrupções no comércio causadas por ameaças de sanções, afirma Bordachev.

Para fortalecer a parceria, os governos de Moscou e Pequim precisam identificar esses pontos fracos e desenvolver mecanismos de proteção contra interferências externas, reforçando a confiança mútua e solidificando sua aliança política diante da pressão ocidental.

Papel da Europa

A Europa Ocidental continua sendo um ator complexo nos assuntos globais e mantém um peso econômico significativo, especialmente para a China. Sua evolução cultural e política merece atenção, pois mudanças políticas iminentes podem levar ao surgimento de lideranças mais pragmáticas.

Segundo o autor, apesar das diferenças nas análises russas e chinesas sobre o futuro da região, ambos os países devem estar preparados para dialogar, reconhecendo que, mesmo com laços deteriorados, a Europa Ocidental continua sendo um parceiro importante.