A OTAN permanecerá intacta mesmo com as pressões do presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou Kaja Kallas, representante da União Europeia para Assuntos Externos e Política de Segurança. Ela advertiu, contudo, que certos países-membros da organização deverão fazer escolhas difíceis para alcançarem as metas de investimentos em defesa.
A declaração foi feita em uma entrevista ao jornal espanhol El Mundo divulgada nesta terça-feira, após Kallas ser perguntada se a OTAN sobreviverá ao mandato de Trump. "Tenho certeza. É uma aliança forte que está viva e bem", ela respondeu, acrescentando que os estados-membros se comprometeram a investir pelo menos 2% de seu PIB em defesa em 2024.
Contudo, muitos países ainda estão longe de alcançar a cifra, no que Kallas comentou ser "ilusório sair dessa situação sem realizar escolhas difíceis e impopulares", citando seu mandato como primeira-ministra da Estônia, no qual aumentou impostos.
A representante também respondeu sobre possíveis subsídios da União Europeia para países-membros que estão nessa situação, mencionando medidas já vigentes nas regras fiscais para aqueles que estão endividados com o bloco, permitindo que essas nações aumentem seus gastos em outros setores.
Trump e OTAN
Donald Trump tem realizado reiteradas críticas aos países da aliança militar, acusando-os de depender das forças norte-americanas e não investirem o suficiente em sua própria defesa. Ele sugeriu que a meta de investimentos em defesa seja aumentada de 2% para 5% do PIB de cada país - algo que nem os próprios EUA cumprem.
Rearmamento da Europa
As declarações de Kallas ocorrem em meio aos esforços do bloco europeu em impulsionar o "ReArm Europe Plan". Divulgado neste mês pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, o plano prevê até 800 bilhões de euros em dívidas e incentivos fiscais para o complexo industrial-militar do bloco.
A justificativa seria uma suposta "ameaça russa" contra os países do continente, algo que Kallas vê como fundamental para convencer a população à aprovar os gastos: "a ideia é vê-la como uma ameaça direta da Rússia à Europa".
O presidente russo, Vladimir Putin, já destacou em múltiplas ocasiões que as especulações sobre um ataque da Rússia contra a Europa são "um absurdo absoluto" e uma tentativa dos países membros da OTAN "assustarem a sua população com uma ameaça russa imaginária".