Alexander Pushkin, o 'pai fundador' da literatura russa moderna

No ocidente, quando pensamos em literatura russa, os primeiros nomes que vêm à nossa mente são grandes escritores como Lev Tolstói, Fyodor Dostoyévsky, Ivan Turguêniev, Anton Tchekhov, entre muitos outros.
Na Rússia, contudo, um nome relativamente desconhecido no mundo ocidental desponta como o expoente máximo das letras russas e é praticamente unanimidade como o maior escritor e poeta de toda a história da Rússia.
A importância de Alexander Sergueyevich Pushkin e a extensão de sua influência na cultura russa são até mesmo difíceis de serem mensuradas.
A RT reuniu os principais fatos e acontecimentos da vida do grande poeta russo, cuja importância permanece inabalável por mais de dois séculos. Neste artigo, vamos buscar entender por que Pushkin é uma figura-chave na cultura russa.
Legado literário
Alexander Pushkin nasceu em 6 de junho de 1799 proveniente de uma família nobre e educado segundo os costumes da alta sociedade. Seus anos de estudo no Liceu Imperial de Tsarskoye Selo entre 1811 e 1817 foram cruciais para sua formação como poeta. Foi durante esse período que seu talento começou a ser reconhecido tanto por professores quanto por colegas, o que teve um impacto significativo em seu futuro literário.

Embora tenha vivido apenas 37 anos, Pushkin deixou um vasto legado literário que continua a ser cultuado e estudado por acadêmicos, linguistas e filósofos até os dias atuais. Ele faleceu em 10 de fevereiro de 1837 em São Petersburgo após ser fatalmente ferido em um duelo com o oficial francês Georges d'Anthès.
Ao longo de sua vida, Pushkin escreveu 14 poemas narrativos épicos, 12 obras em prosa, sete contos de fadas, seis dramas históricos, além de inúmeros poemas e aquela que é, provavelmente, sua obra mais celebrada, o romance em verso "Eugene Onegin".
O que faz de Pushkin uma figura tão importante?
Mais do que um mero poeta, Alexander Pushkin é considerado o "pai fundador" da literatura russa moderna tal como a conhecemos nos tempos atuais. Embora não tenha sido o primeiro escritor da Rússia, suas obras e seu estilo de escrita foram quem deram forma à riquíssima tradição literária deste vasto país, abrindo caminho para que outros grandes nomes a consolidassem como provavelmente a melhor e mais fascinante literatura de todo o mundo.

Muito da língua russa moderna se deve ao trabalho do grande poeta. Antes dele, as obras literárias eram muito pouco acessíveis com uma linguagem extramente complexa, formal e de difícil compreensão. O russo contemporâneo possui muito mais afinidade com o idioma utilizado por Pushkin do que com aquele que prevalecia na época de seu nascimento.
Inovação linguística de Pushkin
Em apenas 20 anos de carreira, Pushkin foi capaz de introduzir, popularizar e até mesmo padronizar a língua russa como a conhecemos hoje. Muitos russos nem se dão conta de que muito do idioma falado por eles atualmente se deve às inovações linguísticas trazidas pelo grande poeta.
Até a época de Pushkin, a tradição literária russa era pautada pela noção da "teoria dos três estilos" de Mikhail Lomonosov, que distinguia os gêneros literários em alto, médio e baixo, no qual o rebuscamento e a complexidade da língua em gêneros como a ode e os poemas épicos eram altamente apreciados em detrimento da linguagem popular utilizada em comédias e canções, que eram tidas, segundo tal tradição, como algo "menor".
Pushkin desempenhou um papel crucial ao desafiar essa noção, trazendo a linguagem popular ao patamar dos grandes gêneros, liberando a riqueza do idioma sem limitações. Sua escrita fluida com liberdade na construção de frases e a clareza de seus textos encorajaram os escritores russos a abraçarem inovações mais progressistas.

Pushkin não hesitava em incorporar termos de línguas estrangeiras às suas obras, especialmente do francês, o que resultou na adoção de diversos estrangeirismos pelo idioma russo. Contudo, mesmo ao assimilar esse vocabulário, o grande poeta sempre procurou preservar a identidade cultural da língua russa, reconhecendo que o uso inadequado de palavras estrangeiras poderia prejudicá-la ao invés de enriquecê-la.
Papel na política e na vida pública
Assim como muitos grandes escritores, Pushkin não se afastou da vida pública e das questões políticas. Emotivo por natureza, o grande poeta expressava abertamente seu ponto de vista sobre assuntos de relevância em seus trabalhos.
Pushkin defendia abertamente a abolição da servidão e era um crítico severo às instituições do Império. Ele apoiou o movimento dezembrista de 1825 e tinha grande empatia por aqueles que participaram do levante contra o czar.
Enquanto alguns acreditam que Pushkin almejava a derrubada da monarquia para a instauração de um novo sistema político, outros sustentam que sua visão política se limitava apenas a opor-se ao despotismo e à tirania, sem necessariamente rejeitar o imperador ou o sistema monárquico em si.

No entanto, sua oposição a vários aspectos da política interna russa trouxe consequências negativas. Pushkin foi exilado por dois imperadores distintos, Alexandre I e Nicolau I, devido às suas críticas. Após a ascensão de Nicolau I ao trono em 1825, o grande poeta permaneceu sob vigilância da polícia secreta e, em certas ocasiões, foi proibido de deixar o país.
Duelo mortal
No dia 8 de fevereiro de 1837, Pushkin foi gravemente ferido em um duelo com o oficial francês Georges d'Anthès, vindo a falecer dois dias depois. O causa da disputa é atribuída a cartas anônimas e provocativas endereçadas ao grande poeta que sugeriam a infidelidade de sua esposa, Natália Goncharova, com o oficial francês.
D'Anthès chegou a se casar com a irmã de Natália, a baronesa Ekaterina Goncharova, possivelmente como uma forma de desviar a atenção dos rumores de que o oficial francês teria flertado com a esposa de Pushkin.
O casamento, contudo, não foi suficiente para aliviar a tensão e, após mais trocas de cartas insultuosas entre os envolvidos na polêmica, o escândalo culminou no duelo que feriu fatalmente o grande poeta. Os duelos eram ilegais naquela época e, por isso, Georges d'Anthès foi expulso da Rússia após o ocorrido, certamente sem se dar conta de que havia matado o maior expoente da literatura russa de todos os tempos.

