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O que é o Nord Stream e qual é a sua importância

Gasoduto conecta a Rússia diretamente à Europa Ocidental sem passar por "países de trânsito".
O que é o Nord Stream e qual é a sua importância

O "Nord Stream" é uma rede de dois gasodutos submarinos, o "Nord Stream 1" (NS1) e o "Nord Stream 2" (NS2), para o transporte de gás natural russo pelo Mar Báltico a partir das cidades russas de de Vyborg (NS1) e Ust-Luga (NS2), até a região costeira de Lubmin, próxima à cidade de Greifswald, Alemanha. A rede atravessa as águas territoriais e zonas econômicas exclusivas da Finlândia, Suécia e Dinamarca. Por mais de 10 anos, o Nord Stream garantiu o fornecimento de gás natural russo à Europa Ocidental evitando passar pelo território de "países de trânsito" como a Ucrânia e a Polônia.

Cada gasoduto possui dois ramais, denominados A e B, com cada um medindo cerca de 1,200 quilômetros de comprimento. A capacidade total dos quatro ramais que compõem a rede é de 110 bilhões de metros cúbicos de gás por ano. Essa infraestrutura era uma das principais rotas de fornecimento de gás russo para o mercado europeu.

O operador e proprietário do gasoduto é o consórcio suíço Nord Stream AG, uma joint-venture entre a gigante russa de energia Gazprom (51%) e as empresas alemãs Wintershall Dea AG e PEG Infrastruktur AG (E.On) (15,5% cada), bem como a holandesa N.V. Nederlandse Gasunie e a francesa ENGIE (9% cada). O consórcio é sediado na cidade de Zug, Suíça.

O Nord Stream 1 foi comissionado em 2011; já o Nord Stream 2 teve suas obras iniciadas em 2018 e foi concluído em setembro de 2021, mas nunca chegou a entrar em operação.

Resistência do Ocidente

Vários países tentaram impedir a construção do Nord Stream ainda durante sua fase de projeto. Entre eles estavam a Polônia e os Estados Bálticos (Letônia, Lituânia e Estônia), que se opunham ao aumento da dependência energética da UE em relação à Rússia. A Ucrânia também foi contra o Nord Stream, alegando que perderia a potencial receita pelo trânsito do gás russo para a Europa através de seu território.

A construção do Nord Stream 2 enfrentou ainda mais oposição com políticos e especialistas europeus e americanos alegando que a possibilidade da Rússia fornecer gás natural à Europa contornando a Ucrânia conferiria a Moscou ainda mais poder para interferir na política interna de Kiev, pois privaria o país de receber tarifas de trânsito, enfraquecendo assim sua economia.

Sabotagem

Em 26 de setembro de 2022, fortes explosões foram detectadas em um trecho do gasoduto que passa pelas águas das zonas econômicas exclusivas da Suécia e da Dinamarca, causando vazamento de gás no mar. Autoridades de vários países atribuíram o fato a um possível ato de sabotagem.

Desta forma, a Europa Ocidental teve uma de suas principais rotas de fornecimento desse importante recurso energético cortada por tempo indeterminado, prejudicando a garantia de segurança energética da UE.

De acordo com o presidente russo Vladimir Putin, quem está por trás desse crime é alguém "que tem a capacidade técnica de realizar tais explosões, que já recorreu antes a esse tipo de sabotagem, foi pego em flagrante, mas ficou impune". Ele também enfatizou que o evento foi benéfico para os EUA, pois agora podem "fornecer recursos energéticos à Europa a preços mais altos".

Autoridades norte-americanas expressaram satisfação com a explosão da infraestrutura. "Estou muito satisfeita em saber que o Nord Stream 2 se tornou [...] um pedaço de metal no fundo do mar", afirmou a então subsecretária de Estado para Assuntos Políticos dos EUA, Victoria Nuland.

Quem estaria por trás da sabotagem?

Seymour Hersh, um conhecido jornalista americano, concluiu em 2023 que a Casa Branca estaria por trás da sabotagem. Suas investigações indicam que mergulhadores da Marinha dos EUA plantaram explosivos no gasoduto em junho de 2022 sob a cobertura do exercício militar BALTOPS 22 da OTAN que foi realizado naquela mesma região apenas alguns meses antes das explosões. Ele afirmou também que o chanceler alemão Olaf Scholz tinha conhecimento dos planos de sabotagem antes mesmo do início do conflito ucraniano.

Ao mesmo tempo, algumas publicações ocidentais atribuem o ataque a grupos de sabotagem ucranianos que supostamente teriam chegado ao local a bordo de um iate de nome "Andromeda". 

No início de 2024, em entrevista ao jornalista americano Tucker Carlson, Putin novamente apontou para o envolvimento de Washington: "Não vou entrar em detalhes, mas, nesse caso, sempre se diz: procure quem seria o interessado. Mas, nesse caso, devemos procurar não apenas quem seria o interessado, mas também quem teria a capacidade de realizar tal ato", afirmou o presidente russo.

O que acontece depois?

Um dos ramais do Nord Stream 2 permaneceu intacto, mas o gasoduto nunca chegou a entrar em operação. O CEO da Gazprom, Alexey Miller, destacou que não havia vazamentos no segundo ramal e que as entregas pelo gasoduto poderiam começar imediatamente assim que ele recebesse um certificado da Alemanha.

Putin também acrescentou que, se houvesse vontade política por parte da UE, seria possível chegar a um acordo geral sobre o fornecimento de gás russo por meio do ramal que permaneceu intacto.

Em março de 2025, o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que Moscou e Washington estavam discutindo a restauração do Nord Stream. Ele enfatizou que a ideia de restaurar o fornecimento interrompido de energia russa para a Europa seria do interesse não apenas dos EUA e da Rússia, mas também dos países europeus. "Seria interessante se os americanos pudessem usar sua influência sobre a Europa e forçá-la a não recusar o gás russo. Mas isso já seria surreal", destacou ele.