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Expulsão dos EUA é 'símbolo de dignidade', afirma enviado sul-africano

Ebrahim Rasool declara não ter "nenhum arrependimento" após ser declarado persona non grata por críticas à administração Trump.
Expulsão dos EUA é 'símbolo de dignidade', afirma enviado sul-africanoAP / Nardus Engelbrecht

O embaixador da África do Sul nos EUA, Ebrahim Rasool, expulso pelo governo do presidente Donald Trump, afirmou aos seus apoiadores que usarão seu status de persona non grata como um "símbolo de dignidade". Ele fez a declaração ao chegar em casa, no Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo, no domingo (23).

Rasool foi declarado indesejável nos EUA no dia 14 de março pelo Secretário de Estado, Marco Rubio, que o rotulou como um "político provocador de divisão racial", acusando-o de nutrir ódio pela América e seu presidente.

A medida foi tomada após comentários de Rasool durante um webinar, no qual ele criticou Trump por liderar um "ataque supremacista à titularidade" por meio de sua campanha.

Falando para a multidão que o recebeu calorosamente com tambores e danças, Rasool disse que seu retorno não foi uma escolha, mas afirmou que ele e sua esposa "retornaram para casa sem arrependimentos".

"Estamos realmente comovidos com esta recepção calorosa, após a ocorrência desconcertante de ser declarada persona non grata, apenas por analisar intelectual e politicamente seu país hospedado e preparar nosso próprio país para termos de engajamento radicalmente novos", declarou ele.

"Uma declaração de persona non grata tem o objetivo de humilhá-lo, mas quando você retorna a uma multidão como esta, tão calorosa (...), usarei minha persona non grata como um distintivo de dignidade, um distintivo dos nossos valores e um distintivo de que fizemos a coisa certa", afirmou o diplomata.

Entenda o caso:

A ruptura diplomática ocorre em meio a crescentes tensões entre Washington e Pretória. O presidente dos EUA suspendeu recentemente todo o financiamento federal para a África do Sul devido a uma controversa lei de expropriação de terras, que o país africano afirma que visa corrigir disparidades raciais históricas na propriedade de terras.

Trump alega que a lei viola os direitos dos sul-africanos brancos, que ainda possuem a maioria das terras agrícolas, apesar de constituírem apenas cerca de 7% da população.

O governo sul-africano manteve conversas com o governo Trump para esclarecer o que considera ser "desinformação" sobre a política fundiária.

A expulsão de Rasool é uma medida rara nas relações diplomáticas dos EUA, embora diplomatas de escalonamento inferior já tenham sido submetidas a ações semelhantes no passado.

Pretória chamou a demissão do enviado de uma atitude "lamentável", mas reafirmou seu compromisso em manter relações diplomáticas com Washington.

No domingo (23), Rasool disse que é fundamental para a África do Sul reparar seus laços com os EUA, "mas não às custas de nossa dignidade, porque não seremos intimidados".