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'Mãos cobertas de sangue': Sérvia recorda os 26 anos dos bombardeios da OTAN

A brutal operação contra Iugoslávia, que durou 78 dias, resultou em milhares de mortos e na destruição de sua infraestrutura vital, deixando marcas profundas na memória coletiva da Sérvia; autoridades russas reafirmam o apoio ao povo sérvio e criticaram a impunidade dos responsáveis.
'Mãos cobertas de sangue': Sérvia recorda os 26 anos dos bombardeios da OTANGettyimages.ru / Getty Images / Handout

O dia 24 de março de 2025 marca o 26º aniversário do início dos bombardeios da OTAN na Iugoslávia, país que se desintegrou após uma série de conflitos étnicos na década de 1990 e que, em 1999, era formado apenas pelo que hoje são a Sérvia e Montenegro.

As forças da Aliança intervieram no conflito relacionado à independência do Kosovo sem a aprovação da ONU.

O então presidente dos EUA, Bill Clinton, anunciou o lançamento dos ataques contra a Iugoslávia em um discurso de 24 de março de 1999, justificando a ação como "uma intervenção humanitária" para impedir "a repressão brutal" das forças iugoslavas contra a maioria albanesa em Kosovo, província da Sérvia.

A chamada Operação Força Aliada, que durou 78 dias, resultou em milhares de mortes civis, destruição de infraestrutura crítica e deixou marcas profundas na memória do povo.

Mortes de civis e infraestrutura destruída

Durante as 11 semanas de ataques, quase todas as cidades da Sérvia foram alvos dos bombardeios, conforme relembram os meios de comunicação do país.

A OTAN realizou 2.300 ataques e lançou 22.000 toneladas de mísseis, incluindo 37.000 bombas de fragmentação proibidas e outras com urânio enriquecido, detalham as reportagens.

De acordo com dados do Ministério da Defesa da Sérvia, citados pela imprensa sérvia, cerca de 2.500 civis, incluindo 89 crianças, morreram durante os 78 dias de ataques.

Cerca de seis mil civis ficaram feridos, sendo 2.700 crianças, além de 5.173 soldados e policiais mortos e 25 pessoas desaparecidas.

Além disso, o uso de urânio empobrecido causou desastres ambientais e aumentou em cinco vezes os casos de câncer.

Cerca de 25 mil edifícios residenciais foram destruídos ou danificados, 470 quilômetros de estradas e 595 quilômetros de ferrovias foram desativados.

A mídia local detalha que 14 aeroportos, 19 hospitais, 20 centros de saúde, 18 jardins de infância, 69 escolas, 176 monumentos culturais e 44 pontes foram danificados, enquanto 38 foram completamente destruídos.

Dor que não pode ser esquecida

Hoje, ao relembrar o 26º aniversário do início dos bombardeios pela OTAN, os sérvios "não querem, nem podem, nem ousam" esquecer e perdoar a agressão da Aliança, afirmou o vice-primeiro-ministro da Sérvia, Alexandar Vulin, nesta segunda-feira (24).

"O século XX terminou com o último grande e impune crime: a agressão da OTAN à República Federal da Iugoslávia. Todas as guerras após 1999 são consequências diretas do assassinato de crianças sérvias pela OTAN e do direito internacional. Suas mãos estão cobertas de sangue", declarou.

"Que Deus os perdoe, os sérvios não querem, não podem e não ousam", enfatizou.

"Nunca lavará a vergonha dos crimes de guerra"

A Rússia sempre se solidarizará com o povo sérvio para "preservar a memória das vítimas da tragédia de 1999 e impedir tentativas de reescrever a história da crise iugoslava segundo a perspectiva ocidental", declarou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, nesta segunda-feira.

Zakharova ressaltou a importância de preservar a memória, observando que este dia é frequentemente ignorado, e que apenas os países "que conhecem a história e não perderam o senso de justiça e humanismo" se lembram dele na comunidade internacional.

Ela denunciou a campanha sangrenta da OTAN, afirmando que a Aliança "nunca apagará a vergonha dos crimes de guerra" cometidos sob a bandeira de "democracia e liberdade".

Para ela, a agressão da OTAN foi "um exemplo de barbárie moderna", em que "os Estados Unidos e seus representantes abusaram do direito internacional, minaram a segurança na Europa e provocaram uma crise nas relações internacionais que não foi resolvida até hoje".

A porta-voz afirmou que nem com o passar do tempo o massacre na Iugoslávia não desaparecerá da memória coletiva e nem perderá seu simbolismo.

"Não importa o quanto os aliados da OTAN peçam ao povo sérvio para esquecer o passado, para 'virar a página', como eles gostam de dizer, a memória daquela primavera sangrenta continua viva no povo sérvio", concluiu.