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Cresce o receio sobre mecanismo de 'desligamento' em armas enviadas pelos EUA à Europa

Aflita pela instabilidade mundial e pela dependência da tecnologia militar dos EUA, a Europa manifestou preocupação de que Washington pudesse utilizar um mecanismo secreto que desative as armas vendidas aos países do continente.
Cresce o receio sobre mecanismo de 'desligamento' em armas enviadas pelos EUA à EuropaGettyimages.ru

Os EUA dominam o mercado global de tecnologia militar, mas essa posição enfrenta um ceticismo crescente na Europa, alimentado por suspeitas de que suas armas escondem um "Kill Switch" ("interruptor de emergência"), que seria um mecanismo secreto de desativação remota. 

Embora nunca tenha sido confirmado oficialmente, o debate intensificou-se na sequência das decisões controversas de Donald Trump e da dependência da Europa de sistemas fundamentais como o caça F-35.

As críticas do governo dos EUA aos seus parceiros da OTAN, a quem acusa de subinvestir em defesa, e a declaração de Donald Trump sobre a responsabilidade da Europa pela segurança da Ucrânia, alimentaram ainda mais os temores.

O que é um 'Kill Switch' e por que ele é alarmante?

Esse seria um sistema oculto, baseado em "software" ou "hardware", que daria a Washington a capacidade de desligar as armas vendidas a seus aliados em questão de horas. Além das tensões geopolíticas, a controvérsia sobre esse suposto "interruptor de emergência" levanta importantes questões técnicas, legais e estratégicas. Trata-se essencialmente de um mecanismo para desativar remotamente sistemas militares e, potencialmente, limitar o uso de armas dos EUA por aliados.

De acordo com essa teoria, os equipamentos militares, incluindo os caças F-35, os mísseis HIMARS e os drones MQ-9 Reaper, poderiam ter códigos ou elementos que os EUA poderiam usar para bloquear funções importantes, como o lançamento de munições ou a ativação de motores.

Embora alguns especialistas acreditem que a complexidade das armas modernas, especialmente sua dependência de software e sistemas dos EUA, como comunicações seguras e navegação por GPS, torne a presença de um "Kill Switch" tecnicamente desejável, outros alertam para as graves consequências políticas e econômicas de seu uso contra aliados e duvidam de sua viabilidade.

Dependência europeia: um calcanhar de Aquiles estratégico

Como resultado de sua parceria histórica com a OTAN, interesses geopolíticos e atraso tecnológico em relação aos Estados Unidos, a Europa é altamente dependente da tecnologia militar dos EUA em várias áreas relevantes.

De 2015 a 2019 e de 2020 a 2024, as importações de armas pelos estados-membros da Aliança Atlântica Europeia aumentaram 105%. De acordo com um relatório do Instituto SIPRI, mais de 60% das armas da OTAN na Europa vêm dos Estados Unidos.

Nesse contexto, a interrupção repentina da ajuda militar e do apoio de inteligência à Ucrânia por parte de Donald Trump provocou novamente o temor de que Washington possa ativar o "Kill switch" dos caças exportados pelos EUA, que desempenham um papel fundamental na manutenção da segurança da Europa.

Essa preocupação se manifestou na Alemanha, onde os políticos expressaram o temor de que os EUA pudessem desativar remotamente os F-35A Lightning II entregues para a defesa do país. Além disso, países como Portugal já cancelaram as compras de F-35, e o Canadá está revisando suas aquisições.