
Quem são os Houthis, o poderoso e crescente movimento rebelde do Iêmen?

Os rebeldes houthis do movimento Ansar Allah surgem como um grupo de influência crescente no Iêmen, destacando-se na complexa geopolítica do Oriente Médio, especialmente pelo controle estratégico que exercem sobre a crucial rota comercial do Mar Vermelho.
Sua projeção ampliou-se após a escalada do conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas, consolidando seu papel como ator central nos desdobramentos regionais.
Quem são eles como chegaram ao poder no Iêmen?
Os houthis integram o movimento Ansar Allah, que, em árabe, significa "seguidores de Deus". O grupo está ligado ao zaidismo, ramo do islamismo xiita, fundado por Hussein Badruddin al-Houthi (título "Sayyid" é um tratamento honorífico muçulmano) nos anos 1990, na província de Saada, norte do Iêmen.
Os rebeldes ganharam notoriedade global em 2014, durante a guerra civil do país, ao tomarem a capital Sanaa e assumirem o controle do território, forçando a renúncia do então presidente Abd Rabbuh Mansur al-Hadi. Após perder o poder, al-Hadi fugiu para Aden, no sul, autoproclamando-se presidente e pedindo apoio de nações árabes para retomar o controle.

O conflito interno entre houthis e o governo evoluiu para uma guerra regional com intervenção externa massiva.
Em 2015, uma coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita e apoiada pelos EUA — com países como Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Bahrein, Catar, Jordânia, Egito, Sudão e Paquistão — entrou no conflito, mergulhando o Iêmen em uma guerra devastadora.
Em 2022, a coalizão encerrou sua intervenção militar, abrindo espaço para negociações. Atualmente, os houthis controlam Sanaa e grande parte do noroeste iemenita, incluindo áreas estratégicas no litoral do Mar Vermelho. O governo reconhecido internacionalmente, liderado por Rashad al-Alimi, opera em Aden, em um cenário de divisão territorial e política.
Papel no conflito entre Israel e Hamas
O grupo ganhou visibilidade global após o início da guerra entre Israel e Hamas, em 7 de outubro de 2023. Em apoio a Gaza e em protesto contra os bombardeios israelenses, os houthis passaram a atacar navios mercantes no Mar Vermelho com suposto destino a Israel a partir de novembro daquele ano.
O primeiro-ministro do governo houthi, Ahmad al-Rahawi, afirmou em setembro de 2024 que "um dos frutos" de sua "revolução abençoada" é a "influência significativa do Iêmen no cenário internacional", especialmente pelo apoio aos palestinos.
Os ataques elevaram em mais de 300% os custos de transporte marítimo, já que empresas desviaram rotas para o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul. A mudança obrigou embarcações que ligavam Ásia e Europa a usarem trajetos mais longos e caros, evitando o Canal de Suez.
Em resposta, EUA e Reino Unido enviaram navios de guerra à região, que também se tornaram alvos dos rebeldes. Os houthis afirmaram ter atacado o porta-aviões USS Harry S. Truman e destruído drones norte-americanos.
Operação militar "decisiva e poderosa" de Trump
Em 15 de março de 2025, o presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou uma operação militar "decisiva e poderosa" contra os houthis.
Trump acusou o grupo de promover uma "campanha de pirataria, terrorismo e ataques a navios e drones americanos", que "custaram bilhões de dólares e colocaram vidas em risco". No início de março, os EUA classificaram os houthis como organização terrorista.
Acusações ao Irã
Trump acusou o Irã de ser o "responsável" pelas ações dos houthis. "Que ninguém se engane! Os centenas de ataques cometidos pelos houthis [...] são obra do Irã", escreveu o presidente norte-americano em sua conta no Truth Social, em 17 de março.
O representante iraniano na ONU, Amir Saeid Iravani, rejeitou as acusações como "imprudentes" e as chamou de "ameaça velada de força".
Guerra civil esquecida
O Iêmen enfrentou um bloqueio marítimo e aéreo da coalizão saudita a partir de 2017, agravando a crise humanitária. O cenário inclui fome, surtos de doenças e escassez de água.
Em relatório de março de 2023, a ONU classificou o conflito como "a pior crise humanitária global": 4,5 milhões de deslocados, 21,6 milhões de iemenitas precisando de ajuda urgente e 2,2 milhões de crianças com desnutrição aguda.
Entre 2015 e 2021, estima-se que 377 mil morreram — 60% por causas indiretas da guerra, como falta de alimentos e acesso a saúde.