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Quem são os Houthis, o poderoso e crescente movimento rebelde do Iêmen?

Grupo xiita que controla a capital Sanaa e áreas estratégicas do Iêmen, os houthis ganharam relevância global pela defesa do povo palestino e pelos ataques a navios americanos e israelenses no Mar Vermelho.
Quem são os Houthis, o poderoso e crescente movimento rebelde do Iêmen?Gettyimages.ru / Mohammed Hamoud

Os rebeldes houthis do movimento Ansar Allah surgem como um grupo de influência crescente no Iêmen, destacando-se na complexa geopolítica do Oriente Médio, especialmente pelo controle estratégico que exercem sobre a crucial rota comercial do Mar Vermelho.

Sua projeção ampliou-se após a escalada do conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas, consolidando seu papel como ator central nos desdobramentos regionais.

Quem são eles como chegaram ao poder no Iêmen?

Os houthis integram o movimento Ansar Allah, que, em árabe, significa "seguidores de Deus". O grupo está ligado ao zaidismo, ramo do islamismo xiita, fundado por Hussein Badruddin al-Houthi (título "Sayyid" é um tratamento honorífico muçulmano) nos anos 1990, na província de Saada, norte do Iêmen.

Os rebeldes ganharam notoriedade global em 2014, durante a guerra civil do país, ao tomarem a capital Sanaa e assumirem o controle do território, forçando a renúncia do então presidente Abd Rabbuh Mansur al-Hadi. Após perder o poder, al-Hadi fugiu para Aden, no sul, autoproclamando-se presidente e pedindo apoio de nações árabes para retomar o controle.

O conflito interno entre houthis e o governo evoluiu para uma guerra regional com intervenção externa massiva.

Em 2015, uma coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita e apoiada pelos EUA — com países como Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Bahrein, Catar, Jordânia, Egito, Sudão e Paquistão — entrou no conflito, mergulhando o Iêmen em uma guerra devastadora.

Em 2022, a coalizão encerrou sua intervenção militar, abrindo espaço para negociações. Atualmente, os houthis controlam Sanaa e grande parte do noroeste iemenita, incluindo áreas estratégicas no litoral do Mar Vermelho. O governo reconhecido internacionalmente, liderado por Rashad al-Alimi, opera em Aden, em um cenário de divisão territorial e política.

Papel no conflito entre Israel e Hamas 

O grupo ganhou visibilidade global após o início da guerra entre Israel e Hamas, em 7 de outubro de 2023. Em apoio a Gaza e em protesto contra os bombardeios israelenses, os houthis passaram a atacar navios mercantes no Mar Vermelho com suposto destino a Israel a partir de novembro daquele ano.

O primeiro-ministro do governo houthi, Ahmad al-Rahawi, afirmou em setembro de 2024 que "um dos frutos" de sua "revolução abençoada" é a "influência significativa do Iêmen no cenário internacional", especialmente pelo apoio aos palestinos.

Os ataques elevaram em mais de 300% os custos de transporte marítimo, já que empresas desviaram rotas para o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul. A mudança obrigou embarcações que ligavam Ásia e Europa a usarem trajetos mais longos e caros, evitando o Canal de Suez.

Em resposta, EUA e Reino Unido enviaram navios de guerra à região, que também se tornaram alvos dos rebeldes. Os houthis afirmaram ter atacado o porta-aviões USS Harry S. Truman e destruído drones norte-americanos.

Operação militar "decisiva e poderosa" de Trump

Em 15 de março de 2025, o presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou uma operação militar "decisiva e poderosa" contra os houthis.

Trump acusou o grupo de promover uma "campanha de pirataria, terrorismo e ataques a navios e drones americanos", que "custaram bilhões de dólares e colocaram vidas em risco". No início de março, os EUA classificaram os houthis como organização terrorista.

Acusações ao Irã

Trump acusou o Irã de ser o "responsável" pelas ações dos houthis. "Que ninguém se engane! Os centenas de ataques cometidos pelos houthis [...] são obra do Irã", escreveu o presidente norte-americano em sua conta no Truth Social, em 17 de março. 

O representante iraniano na ONU, Amir Saeid Iravani, rejeitou as acusações como "imprudentes" e as chamou de "ameaça velada de força".

Guerra civil esquecida

O Iêmen enfrentou um bloqueio marítimo e aéreo da coalizão saudita a partir de 2017, agravando a crise humanitária. O cenário inclui fome, surtos de doenças e escassez de água.

Em relatório de março de 2023, a ONU classificou o conflito como "a pior crise humanitária global": 4,5 milhões de deslocados, 21,6 milhões de iemenitas precisando de ajuda urgente e 2,2 milhões de crianças com desnutrição aguda.

Entre 2015 e 2021, estima-se que 377 mil morreram — 60% por causas indiretas da guerra, como falta de alimentos e acesso a saúde.