Rússia não deve cair na 'doce armadilha' de Trump, afirma cientista político russo

Para Sergey Karaganov, o arsenal nuclear russo não podem ser reduzido em "nenhuma circunstância".

Enquanto Washington revive a conversa sobre a redução de armas nucleares, o renomado cientista político russo e ex-assessor do Kremlin, Sergey Karaganov, descarta a ideia como uma estratégia para enfraquecer a Rússia e preservar o domínio militar dos EUA.

Em entrevista recente ao jornal MK, Karaganov argumentou que a dissuasão nuclear permanece como a melhor garantia da Rússia contra a guerra, alertando para os erros cometidos pelo ex-líder soviético Mikhail Gorbachev.

Segundo o cientista, as armas nucleares não devem ser reduzidas sob nenhuma circunstância, mesmo que haja pessoas na Rússia que acreditam que menos armas nucleares é melhor.

"Entendemos que há muitas pessoas que foram educadas na estrutura ideológica americana e são a favor de qualquer desarmamento, que acreditarão nas palavras de Trump. Mas elas [as palavras] são uma astúcia. São uma armadilha doce", afirmou.

Ele ainda sugeriu que a proposta de desarmamento seria uma tentativa de repetir o truque feito por Reagan com Mikhail Gorbachev.

"Guarda-chuva nuclear" da Europa Ocidental

Karaganov também criticou a proposta do presidente francês, Emmanuel Macron, de um "guarda-chuva nuclear" para a Europa Ocidental.

"Já escrevi muitas vezes, e os especialistas americanos nunca me contradisseram: em nenhuma circunstância os Estados Unidos usarão armas nucleares contra a Rússia em caso de guerra na Europa. Isso é um axioma. Embora a doutrina americana preveja esse uso. Mas isso é um blefe de 100%", declarou.

Ele também afirmou que, em algum momento da história, a Rússia mesma se esqueceu de várias das funções da dissuasão nuclear, a qual, segundo ele, poderia evitar não apenas a agressão nuclear, mas também qualquer guerra.

Mudança da posição dos EUA sobre conflito ucraniano

Karaganov descreveu como a postura nuclear da Rússia provocou uma mudança na estratégia dos EUA, fazendo com que Washington recuasse de sua posição inicial de linha dura em relação à Ucrânia.

"No início do verão passado, houve uma discussão sobre a necessidade de aumentar a dissuasão nuclear, então mudamos nossa doutrina nuclear e subimos vários degraus na escada do aumento da dissuasão nuclear", declarou Karaganov. Segundo ele, isso demonstrou a prontidão da Rússia para usar armas nucleares.

"No início, diziam que a Rússia nunca usaria armas nucleares e, portanto, era possível continuar a guerra até o último ucraniano e até a exaustão da Rússia. Após receberem sinais da Rússia, pararam de falar sobre isso e começaram a falar sobre a necessidade de evitar a Terceira Guerra Mundial, sobre a necessidade de interromper a escalada", destacou o ex-assessor do Kremlin.

Karaganov ainda apontou que, no final do governo Biden, o presidente tentou impor a continuação do conflito, transferindo a responsabilidade para o próximo governo. Porém, Donald Trump não caiu na armadilha, buscando maneiras de terminar o conflito.