Rússia denuncia 'obsessão' de Macron e da 'Führer Ursula' por guerra

O chanceler russo, Sergey Lavrov, em conversa com blogueiros americanos, reforçou a disposição da Rússia em buscar interesses mútuos com a nova administração dos EUA, criticou a postura da União Europeia em relação ao conflito ucraniano, destacando a importância de proteger os povos em jogo no conflito e reafirmou a aliança da Rússia com a China

Durante as negociações de fevereiro em Riad, na Arábia Saudita, a delegação dos Estados Unidos deixou claro para a parte russa que, embora os interesses nacionais dos dois países nunca coincidam, Washington e Moscou estão dispostos a trabalhar em algo "mutuamente benéfico".

A declaração foi feita pelo chanceler russo, Sergey Lavrov, em entrevista concedida na quarta-feira (12) aos blogueiros norte-americanos Mario Naufal, Larri Johnson e Andrew Napolitano.

"Quando nos reunimos – e espero não revelar nenhum segredo – em Riad com Marco Rubio, Mike Waltz e Steve Witkoff, eles nos disseram: 'olha, queremos relações normais no sentido de que a base da política externa americana sob a Administração de Donald Trump é o interesse nacional dos Estados Unidos. Isso é indiscutível. Mas, ao mesmo tempo, entendemos que outros países também têm seus interesses nacionais. E com aqueles países que têm seu interesse nacional e não jogam com os interesses de outros, estamos dispostos a manter um debate sério'", relatou Lavrov.

"É bastante compreensível que nos tenham dito que países como os EUA e a Rússia nunca teriam os mesmos interesses nacionais", afirmou o chanceler. Ele destacou ainda que "eles não coincidiriam, talvez 50% ou menos", mas, quando coincidirem, se os políticos forem "responsáveis", devem desenvolver esse interesse simultâneo em "algo prático que seja mutuamente benéfico, sejam projetos econômicos, projetos de infraestrutura ou qualquer outra coisa".

Segundo Lavrov, a delegação norte-americana também declarou que "quando os interesses não coincidem e se contradizem, os países responsáveis devem fazer todo o possível para não permitir que essa contradição se degenere em confronto, especialmente um confronto militar, que seria desastroso para muitos outros países".

"Dissemos a eles que compartilhamos totalmente dessa lógica. É absolutamente a maneira como o presidente Putin quer e consegue conduzir nossa política externa", afirmou o diplomata russo.

"Führer Ursula"

Lavrov também criticou a política da União Europeia (UE) em relação ao conflito ucraniano. Ele afirmou que, no passado, o bloco ainda "mantinha alguma aparência de parceira econômica, mas agora perdeu completamente essa característica".

"E a Führer Ursula [von der Leyen] está mobilizando todos para militarizar a Europa novamente. Fala-se em somas incríveis de dinheiro. Muitas pessoas acham que isso é um truque para desviar a atenção das pessoas das dezenas e centenas de bilhões de euros que foram gastos durante os dias de covid e durante a ajuda à Ucrânia sem uma auditoria adequada", explicou.

"A UE também perdeu sua independência e seu senso econômico [...]. As empresas estão se mudando para os Estados Unidos, a desindustrialização da Europa está ocorrendo. Eles estão prontos para sacrificar tudo isso a fim de alcançar o objetivo ideológico de 'derrotar' a Rússia", denunciou.

Sobre os temores dentro da UE em relação à postura de Trump sobre a OTAN, Lavrov disse não acreditar que os Estados Unidos deixariam o bloco. "Pelo menos o presidente Trump nunca deu a entender que esse poderia ser o caso. Mas o que ele disse sem rodeios foi que 'se querem que nós os protejamos, que lhes demos garantias de segurança, paguem o que for preciso'", explicou o ministro.

A "obsessão" de Macron

O chanceler russo afirmou estar "muito surpreso" com a "obsessão" do presidente francês, Emmanuel Macron, pelas forças de paz.

"O presidente Emmanuel Macron disse: 'vamos parar, em um mês as forças de paz serão enviadas e então veremos o que fazer em seguida'. Em primeiro lugar, isso não é o que dizemos ser necessário para o fim dessa guerra que o Ocidente travou contra nós, por meio dos ucranianos, com o envolvimento direto de seus militares", afirmou Lavrov.

"Se a expansão da OTAN é reconhecida, pelo menos por Donald Trump, como uma das causas principais, então a presença em solo ucraniano de tropas de países da OTAN, sob qualquer bandeira e em qualquer capacidade, é a mesma ameaça", acrescentou.

Nesse sentido, ele destacou que a Rússia não aceitará "sob nenhuma condição" tal desenvolvimento de eventos. "Ninguém fala conosco. Eles continuam dizendo 'nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia', mas fazem tudo sobre a Rússia sem a Rússia", criticou.

"Portanto, com todo o respeito, esse não seria um grupo, uma força de manutenção da paz. Seria um grupo mantendo e protegendo um regime nazista. E isso é absolutamente impossível", enfatizou.

"Nossa consciência é transparente e clara"

Lavrov afirmou que a Rússia sabe como evitar um compromisso sobre a Ucrânia que colocaria em risco o destino do povo, pois – ele ressaltou – a prioridade de Moscou é proteger as pessoas que o regime de Kiev privou de sua história com a ajuda das leis.

"Nossa consciência é muito clara e limpa. E está limpa, não porque a usemos poucas vezes, mas porque queimamos os dedos tantas vezes que, nesta crise em particular, sabemos o que deve ser feito e não vamos ceder no caminho que comprometa o destino do povo. Não se trata dos territórios, trata-se das pessoas a quem a lei privou de sua história", destacou.

Enquanto isso, a Europa e o Reino Unido "certamente querem" que esse conflito continue, disse Lavrov. "A maneira como receberam Zelensky em Londres após o escândalo em Washington é uma indicação de que querem aumentar a aposta e estão preparando algo para pressionar o governo de Donald Trump a tomar alguma ação agressiva contra a Rússia novamente", afirmou.

A Rússia "não trairá" a China

O ministro também foi questionado sobre a possível saída da Rússia de sua aliança com a China.

"Nunca tivemos relações tão boas com a China, tão confiantes, tão duradouras e tão apoiadas pelos povos de ambos os países", respondeu ele. "Os americanos sabem que não trairíamos nossos compromissos, os compromissos legais, mas também, como sabem, os compromissos políticos que desenvolvemos com os chineses", destacou.

Lavrov reconheceu que as relações, no entanto, enfrentam certos problemas e dificuldades, "principalmente por causa das sanções, porque as empresas querem evitar ser punidas".

"Alguns projetos logísticos e de infraestrutura muito promissores na Sibéria estão sendo adiados. Mas não temos pressa e os chineses, é claro, nunca têm pressa. Eles sempre olham para além do horizonte. Esse é o caráter nacional [deles] e nós respeitamos", enfatizou.