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Taxações de Trump podem abrir oportunidades para o Brasil em quase 2900 produtos

Um estudo do IDEI segure que o Brasil poderia se beneficiar da chamada "guerra comercial" entre os EUA e China, mas desafios percistem.
Taxações de Trump podem abrir oportunidades para o Brasil em quase 2900 produtosTomaz Silva/Agência Brasil

Um possível aumento das tarifas dos Estados Unidos sobre importações da China pode abrir espaço para que o Brasil amplie sua participação no mercado americano, reduzindo a concorrência com os produtos chineses, aponta um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), divulgado na segunda-feira (10).

Segundo o levantamento, as exportações brasileiras poderiam crescer em até 2.863 produtos que atualmente competem com os chineses, o que representaria US$ 25,4 bilhões, ou 68% do total exportado pelo Brasil aos Estados Unidos.

O estudo identifica nove setores mais relevantes para as exportações brasileiras aos EUA, que englobam 1.104 produtos e representam 30% das vendas do país ao mercado americano.

Incertezas e desafios

Os especialistas alertam, no entanto, que para aproveitar essa oportunidade, o Brasil precisaria atender às exigências de volume, preço e confiabilidade, além de considerar que a China pode continuar competitiva mesmo com as tarifas.

"Evidentemente não conseguiremos aproveitar isso integralmente porque a China não seria deslocada completamente desses mercados", afirmou Rafael Cagnin, economista-chefe do IEDI.

O estudo também levanta incertezas sobre a política comercial dos EUA ao longo do governo Trump, com possibilidade de medidas protecionistas mais amplas, como barreiras ao aço, que poderiam afetar o Brasil.

"Há todas essas ressalvas, mas a pauta coincidente não é desprezível. Nesse nível mais detalhado de produto usado no estudo, temos pouco mais de 2,8 mil produtos. É bastante coisa", avaliou Cagnin.

Concorrência em alta tecnologia

Dois dos setores analisados no estudo são ligados à alta tecnologia, incluindo o aeroespacial, impulsionado pela Embraer. Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,97 bilhão em aeronaves e peças para os EUA, quase três vezes os US$ 676 milhões vendidos pela China.

Apesar da vantagem atual, economistas alertam para os avanços tecnológicos chineses na aviação. "A China está correndo atrás e sabemos que quando ela faz isso, a velocidade é alta. Então nesse setor, a importância é consolidar e ocupar a maior parte do terreno possível, para dificultar uma entrada futura da China", disse Cagnin.

Potencial inexplorado em maquinário

O estudo também destaca os setores de maquinário elétrico e veículos, nos quais a participação do Brasil nas exportações para os EUA ainda é pequena, representando apenas 1% dos US$ 457 bilhões exportados pela China.

Embora tarifas mais altas sobre produtos chineses possam favorecer o Brasil, especialistas apontam que os altos custos de produção no país e a capacidade da China de reduzir preços, amparada por indústrias estatais, podem limitar essa vantagem.

Obstáculos políticos e apostas estratégicas

A incerteza sobre a política comercial dos EUA adiciona mais um desafio ao cenário.

"E neste momento, a incerteza sobre como a política de Trump pode afetar o Brasil aumenta as incertezas", disse José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "Há dificuldade para ocupar espaços no mercado americano", completou.

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